terça-feira, 16 de dezembro de 2008

reality shock

Recebi uma proposta para trabalhar no exterior. Não seria transferido pela minha empresa, seria uma contratação local com todos os procedimentos imigratórios de praxe.

Depois do susto inicial, o susto da perspectiva de ir para tão longe. Em seguida, a empolgação: uma experiência incrível num país totalmente diferente de tudo que eu já vi, um mega plus no meu currículo, uma possibilidade de abrir novas portas internacionalmente.

Daí, o choque: o certificado de saúde. Os sites de informação sobre o assunto afirmam que o hiv é motivo para recusa de visto e deportação.

Choque de realidade, essa que está comigo, a minha volta e dentro de mim. Esta realidade que afasta pessoas, me separa dos demais e me coloca na classe inominada dos excluídos das possibilidades que as pessoas podem ter. E do poder de escolha de qual caminho seguir.

Uma regra recente do governo daquele país ainda afirma que o hiv não pode ser mais motivo de recusa de visto de trabalho e residência, mas a teoria não necessariamente caminha de mãos dadas com a prática. E não sou eu quem vai atestar isso pessoalmente e correr o risco de sofrer na pele a recusa de um visto e encarar a possibilidade de uma deportação.

Então ficamos assim; "obrigado pelo convite, mas não posso aceitar."

E a vida continua.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Love is positive

Uma matéria interessante sobre casais sorodiscordantes e preconceito: 'Positive' love runs into negative tide (Jamaica Gleaner News)

Dicas interessantes para lidar com a situação:
  • Get to know the person who you are interested in dating. If you are considering dating someone living with HIV, you should take the time to really get to know that person and find out about his/her interests, likes, dislikes and goals. It is important to build a strong friendship with that person before rushing into a serious relationship with him. Also, make sure that you do not engage in any type of sexual activities at the beginning of the relationship.
  • Take time out of your schedule to learn about HIV. You can find information on the Internet, visit a library for books and materials, or stop by a local health centre to pick up brochures and handouts about HIV. This can help you better understand the virus before developing a close or intimate relationship with someone who has HIV.
  • Talk with your potential partner about his/her HIV status. Find out more about his/her illness, such as how often he/she visits the doctor, the medication he/she is taking, side effects experienced from the medicine, current viral load and white blood cell count. This can give you some insight on the severity of your partner's illness, daily schedule and what might be expected from you, as a partner.
  • Discuss your future relationship and be honest about your concerns. If you decide to date someone with HIV, it is important to discuss your feelings and concerns with that person. Determine the type of relationship you want to have (such as casual dating, an intimate relationship or something long-term with the possibility of marriage) and make sure the other person wants the same thing.
  • Use protection when engaging in sexual activities. HIV is transmitted through infected blood, semen and vaginal secretions, so it is important to protect yourself if you do participate in any type of sexual activity with an infected person (such as vaginal, anal or oral sex). Be sure to use a latex condom each time you have sex with someone who has HIV.
  • Know your HIV status. If you are involved with someone who has HIV, you should get tested for the virus at least once every six months.
  • Provide emotional support to your partner. Let your partner know that you are there for him/her and encourage your partner to open up and talk to you. Also, be sure to accompany your partner on doctor visits whenever you can. This shows your partner that you really do care and that you are concerned about his/her health.

World Aids Day


Um bom tempo sem postar nada aqui, mas tenho tentado organizar a vida dentro e fora. Muitas coisas aconteceram ao longo deste período, como a incrível notícia de cura de um norte-americano que recebeu um transplante de medula de um doador Delta 32, além de um novo tratamento que está sendo desenolvido utilizando «células assassinas»... o nome pirotécnico, quase hollywoodiano, revela o caráter belicoso dessa estratégia.


De resto, novas e velhas discussões sobre perspectivas de controle da pandemia no mundo todo e a grande importância de se fazer testes de hiv em massa, o impacto das ações contra o hiv e a aids no mundo e principalmente na África e a real importância das mesmas em comparação com outras questões tais como Malária, diarréia infantil etc., o aumento de infecções entre pessoas acima dos 50 anos, o aumento da sobrevida dos hiv+ na região Sudeste, nova campanha do Ministério da Saúde para o público na casa dos «enta», enfim, um tema que vem se mantendo em destaque nas manchetes do mundo todo.

Hoje, como o 20º World Aids Day, não poderia deixar de expressar a dor e as esperanças do que significa conviver com o hiv e os desafios de superar os medos e estigmas intrínsecos a esta condição. Há algumas semanas venho tentando autorização do meu plano de saúde para fazer um mero exame de contagem de CD4 sem muito sucesso, sempre enfrentando a burocracia idiota dos laboratórios e do próprio convênio que expõem os usuários a constrangimentos desnecessários. Mas também sei que meu drama não se compara em nada aos famintos e desamparados do mundo inteiro que sofrem com a miséria material e humana em todos os níveis, enfrentando a violência de uma realidade que não encontra limites para infligir tanta dor e sofrimento a milhões de pessoas. Se estou brigando com meu plano de saúde, eu tenho ao menos pelo que brigar e total condição de enfrentar este desafio, o que já é um privilégio.

Portanto, neste dia em que o mundo inteiro se mobiliza para refletir e discutir os caminhos a serem tomados no combate ao hiv e à discriminação dos hiv+, desejo que este seja um problema cada vez menor na cabeça, no corpo e na vida das pessoas -- e que a ciência consiga desenvolver terapias e recursos de prevenção que minimizem ainda mais os riscos e o sofrimento dos que convivem com este problema, direta ou indiretamente.


Deixo aqui um abraço especial ao meu amigo Taner Waterfall do blog EU e o HIV:Vivendo um Dia Após o Outro... que eu leio assiduamente e por quem cultivo grande carinho e admiração. A luta é minha, dele e de todos os que convivem com o hiv e de todos os que se importam.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Estigmas da soropositividade

Há algum tempo venho pensando sobre dois assuntos normalmente relacionados à homossexualidade e ao fato de ser soropositivo: promiscuidade e drogas.

As duas infectologistas com quem me tratei até hoje me surpreenderam com as reações que tiveram ao saberem de como me infectei e sobre meu uso de drogas.

Na anamnese, quando o assunto é sexo protegido e como eu me infectei, as duas se espantaram ao saberem que eu sempre me cuidei e a infecção não se deu num momento da minha vida em que eu me joguei em aventuras sexuais intensas e de alto risco. E as duas duvidaram quando eu disse que não sou um usuário habitual de drogas ilícitas -- com a exceção da maconha que eu adoro e se fosse fácil comprar, eu fumaria todos os dias com certeza. Mas como não tenho acesso fácil, acabo fumando muito eventualmente.

Em primeiro lugar: a fama de promíscuos que todos nós, homens gays, temos é condizente com a realidade? De certa forma, sim. O homem naturalmente pode se aventurar de maneira mais intensa e indiscriminada em relações sexuais frequentes com parceiras (os) diferentes. E falo isso porque experimentei e testemunhei a facilidade com que homens gays ou heterossexuais podem buscar sexo com uma diversidade de parceiros e/ou parceiras num curto espaço de tempo. Casas de massagem no centro do Rio de Janeiro oferecem preços especiais para duas "massagens" com duas "massagistas" diferentes. Nas saunas gays e clubes de sexo, poucos são os que se contentam com um parceiro apenas, experimentando o sexo rápido e fácil com diversos parceiros e quase sempre evitando repetir a dose com o mesmo carinha... a não ser que tenha sido algo realmente excepcional. Mas a quantidade e diversidade costumam ser mais importantes do que a qualidade.
Obviamente, generalizar é sempre um equívoco, eu já conheci homens gays que nunca colocaram os pés numa sauna ou num quarto escuro e não se contentam com sexo casual, buscam antes um relacionamento ou envolvimento maior para o sexo acontecer. Mas como regra, os homens são mais promíscuos sim e as saunas gays são um fenômeno que apenas confirma essa característica da sexualidade masculina -- e facilita sua manifestação.

Mas é curioso como mesmo entre os soropositivos, parece que há uma necessidade de se isentar de qualquer julgamento ou culpa afirmando que a infecção se deu num relacionamento ou num acidente eventual. Vi isso em sites de relacionamento e em diversos relatos e blogs de soropositivos a respeito da soroconversão.

Uma vez li sobre uma artista, não me lembro agora seu nome nem detalhes, mas ela se infectou através de uma transfusão de sangue ou um parceiro fixo e se destacou por falar publicamente de seu status, mas gostava de deixar bem claro que sua infecção se deu "acidentalmente" e que ela não era como os "outros", aqueles que praticavam sexo desprotegido com inúmeros parceiros ou que usavam drogas injetáveis.

De certa forma, também sou um exemplo disso, nem tanto para me diferenciar dos "outros", os promíscuos que fazem sexo indiscriminado sem proteção ou os drogaditos, mas para chamar atenção para o fato de que qualquer um pode se infectar, independente da frequência e da quantidade de vezes que se expõe. E a maior prova disso é que, depois de eu me infectar numa exposição rápida e única, um evento isolado num momento da minha vida em que eu me encontrava um tanto sossegado, eu retomei um namoro e meu namorado (agora ex) não se contaminou, mesmo depois de muitas relações sem proteção comigo. Com certeza ele se expôs mais vezes ao risco de se infectar do que eu, e não foi infectado -- graças ao bom Deus que o preservou são e salvo e me livrou dessa, pois eu jamais me perdoaria...


Outro aspecto que não entendo é a relação estigmatizada dos gays com as drogas. Eu não entendo por quê, nem sei se é um dado estatisticamente comprovável, mas parece que se espera que os gays usem droga (s) ilícita (s) -- maconha, ecstasy, cocaína... No MixBrasil, por exemplo, notícias sobre legalização da maconha são colocadas lado a lado com outros assuntos de interesse do público gay.
Mais uma vez me pergunto: procede essa relação entre gays e drogas? Mais de 80 por centos dos caras com quem me relacionei não usavam nenhum tipo de droga, nem as lícitas, e os que usavam, se limitavam a um baseadinho eventual, quando rolasse. Mas as raves e os clubes de música eletrônica parecem estar tomados de bibas enlouquecidas cheias de bala na cabeça, não é?

Talvez por ser um público **em tese** mais liberal com relação a alguns assuntos (pois não creio que os gays sejam mais liberais e menos preconceituosos, pelo contrário), este tema seja tratado com mais liberdade. Sei lá, mas eu tive de convencer às duas médicas que não sou um usuário habitual de drogas ilícitas. Assumia meu tabagismo (parei há 3 semanas!!!) e bebia (ainda bebo!!!), mas convencê-las de que NÃO USO TÓCHICOS era um custo...

Não posso condená-las por esse preconceito, os estigmas são colocados pela sociedade bla bla bla, mas por outro lado também somos responsáveis de alguma forma. No início da era do hiv, os grupos em que o vírus se disseminou mais rapidamente foram os gays e os viciados em drogas injetáveis. Com o tempo, este quadro mudou, mas novamente as estatísticas mostram que os gays e os usuários de drogas apresentam um crescimento vertiginoso de novas infecções. E o nível de tabagismo e consumo de álcool entre gays e lésbicas é consideravelmente alto, indicam várias pesquisas em várias partes do mundo.

Por isto, sinto que alguns soropositivos lutam contra não apenas o estigma da doença, mas também os demais estigmas que são vinculados ao seu status, como se o fato de ser promíscuo e drogado colocasse uma carga maior sobre seus ombros e a doença fosse, de certa forma, um castigo, um ônus a ser pago por suas escolhas **indevidas**.

domingo, 28 de setembro de 2008

People are still having unprotected sex


Acabo de assistir a um documentário da BBC, "I Love Being HIV Positive", que investiga o fenõmeno dos bugchasers, indivíduos hiv- que procuram caras hiv+ para se infectarem com o vírus. Eu já havia lido a respeito, já havia visto algo no documentário do Stephen Fry, "HIV and Me", mas este documentário foi um soco no estômago.

Ricky é o camarada que fez este documentário. Ele é hiv+ e se infectou num relacionamento pensando que seu namorado era negativo. Engano seu, hoje já convive com o vírus há uns 12 anos, vive um relacionamento estável com um hiv- e resolveu investigar o fenômeno das pessoas que desejam se infectar com o hiv. O principal meio que ele encontrou foi através de um site de encontros por onde foi contactado por diversos ditos bugchasers.

Por ter um caráter educativo, este documentário acaba pegando pesado na situação das pessoas que vivem com o vírus: sintomas, efeitos colaterais dos arv's etc. Por isso apenas o documentário é uma porrada. Mas ele vai mais longe, chega a conversar com pessoas que procuram se infectar e até mesmo com um cara que se correu todos os riscos até contrair o hiv.

O bottom line desse documentário não permite chegar a uma conclusão clara sobre esse fenômeno, se essas pessoas levam esse propósito a sério ou se serve apenas de inspiração para fantasias sexuais extremas que não são colocadas em prática. Uma das pessoas com quem ele conversou, Brian, contou uma história muito inconsistente e chegou a dizer que acabara de receber um exame hiv+, mas nada parecia ser verdade. Em todo caso, suas justificativas para querer se infectar eram muito furadas -- ou o cara é um mentiroso de marca maior ou é mesmo um doido que não tem noção do que está fazendo.

Outro entrevistado havia sido criado numa comunidade religiosa na Austrália que pregava o fim do mundo. Ele resolveu sair da comunidade e assumir sua homossexualidade, praticando sexo inseguro e tem um discurso muito conformista em relação à morte, como se ele tivesse saído da comunidade mas esta não parece ter saído de dentro dele... ele chega a arregalar os olhos e alterar o tom de voz quando fala da morte e da doença, revelando um fanatismo inconsequente.

Numa conversa com um psicoterapeuta que passou a pesquisar esse fenômeno depois de ter tido um namorado que era um bugchaser, alguns pontos foram levantados que merecem um pouco de reflexão: toda relação sexual é de certo modo uma experiência de morte (o blackout depois do orgasmo é chamado "la petite morte"); situações de risco podem funcionar como afrodisíaco para certas pessoas, lidar com as possibilidades diversas de cada experiência, mesmo as mais trágicas; vários são os elementos que podem compor uma fantasia sexual, a morte pode ser uma delas.

Apesar de ficar meio nebulosa a realidade desses indivíduos, aparecem umas coisas que eu realmente quase passei mal só de ver: um camarada escreveu para ele num chat ou num email que queria ser reinfectado por outras cepas do hiv para ter mais chance de desenvolver a doença em sua plenitude, outro dizia estar há 5 anos tentando se infectar sem sucesso e que pensava até em injetar sangue contaminado e outras pérolas do gênero.

Ricky contesta as atuais campanhas de prevenção veiculadas no Reino Unido, como uma em que um barebacker pede para o cara ejacular fora, como se isso reduzisse o risco de contaminação. E questiona qual o melhor meio para tentar conscientizar as pessoas que aparentemente decidiram se infectar com o hiv.

Posso dizer por experiência própria que não é preciso nem mesmo uma relação sexual levada a cabo para ocorrer a infecção: eu mesmo me infectei numa relação que não aconteceu, ou seja, eu nem cheguei a penetrar o cara totalmente, apenas brincamos e eu apareci com sintomas de gonorréia ou micoplasma dois dias depois. Foi falta de cuidado da minha parte, não nego, mas também foi uma puta de uma fatalidade, porque com certeza já havia feito coisas piores sem consequências tão graves e conheço pessoas que se expõem muito mais do que eu jamais me expus e nunca pegaram nada. Apesar de ainda não ter desenvolvido nenhum sintoma e ter meus exames todos normais, não me animo nada com as perspectivas de evolução da doença nem com os efeitos dos arv's que possivelmente tomarei algum dia. Mas tão ruim quanto a própria doença e seu tratamento é o medo do preconceito e da rejeição -- isso sim é um pesadelo constante.
Recomendo este documentário a todos que queiram conhecer mais sobre o assunto, mas aviso logo que não é um docuimentário fácil de se ver.
Enquanto assistia ao doc, me lembrei de um vídeo clip que passava na MTV há uns bons anos, "People are still having sex" do La Tour:



Have you noticed
That people are still having sex?
All the denouncement
Had absolutely no effect.
Parents and counselors
Constantly scorn
them,
But people are still having sex
And nothing seems to stop
them.

Do you realize
That people are still having sex?
They've
been
told no to,
Perhaps they are perplexed.
When you see them
holding hands
They are making future plans
To engage in the activity;
Do you
understand me?

People are still having sex.
Lust
keeps on lurking.
Nothing makes them stop;
This AIDS thing's not
working.

People
are still having sex;
It's been going on for
quite a while.
Perhaps it
is quite fashionable.
It hasn't gone out
of style.

It's a fact that
people are still having sex;
It's
rather obvious--
It's just what one
expects.
The evidence is all
around
That everyone in everytown
Has
had it at one time or another
in their life.

At this very moment,
People are still having sex.
In a downtown condo
Or a street in the
projects.
Even though you
can't see them
Or hear their breathing sounds,
Someone in this world
Is having sex right now.

People are still
having sex.
People
are still having sex.
People are still having sex.
People are still
having sex.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vida +

Recentemente, numa conversa com um amigo, ele me falava como estava cansado das panelinhas gays do Rio de Janeiro, especificamente Ipanema. Ele vinha saindo com um grupo e cansou da mesmice, da frivolidade etc. É claro que nunca podemos generalizar, mas é um fato que a turminha que malha desesperadamente para desfilar nas boates sem camisa e cheia de ecstasy na cabeça não vai muito além disso num bate-papo...
Para ele, a gota d' água foi um dia, na praia (Farme), um grupo de «amigos» olhou para um cara que estava um pouco mais afastado, sozinho, tomando sol, e um deles disse "vamos lá dar uma atençãozinha a ele, ele está com o hiv..." mas num tom mais venenoso do que realmente solidário. Esse amigo não sabe do meu status, me contou isso sem qualquer intenção, simplesmente queria expressar seu desagrado com as panelinhas das bibas de Ipanema.

Apesar de não estar presente, pude ver como se tivesse testemunhado tudo. Esse tom venenoso que ele sentiu me é tão familiar, apesar de eu fugir de lugares gays e de frequentar casas de amigos onde só vão as "irmãs"...

Vale lembrar que a mentalidade que estigmatiza e discrimina é a mesma que impede que as pessoas façam o teste e procurem tratamento.
Não sei como é no resto do mundo, nem como as pessoas lidam com isso por aí, mas eu realmente gostaria de evitar passar por isso -- ser estigmatizado e isolado socialmente por ser hiv+. Pode ser uma neura minha, falta de auto-estima, enfim, pode ser um equívoco de minha parte, mas não gostaria de me ver exposto desta forma. Já não me enquadro muito nos padrões desta turma: não frequento os mesmos lugares, não uso os modelitos que todos usam para cada ocasião, não sigo os modismos da tribo... e não tenho o corpo saradíssimo nem tomo bala quando saio para me divertir.

Aliás, não sei se todos hiv+ sentem isso, mas eu muitas vezes penso sobre meu corpo, sobre perder ou ganhar peso. Gostaria de emagrecer, ganhar uma massa muscular bla bla bla, mas fico muito dividido entre perder peso e manter um aspecto «saudável», por mais que seja um paradigma contestado pela medicina (a velha história do bebê fofinho...). Como eu ganho e perco peso com uma certa facilidade, fico muito entre o sim e o não na hora de definir minha dieta e escolher entre perder peso ou manter uns quilinhos a mais. Sim, eu sei, é medo dos estigmas da doença bla bla bla, mas estou trabalhando isso e pretendo ver um endocrinologista para equilibrar tudo e ter um corpo saudável mesmo.

=================================================

Continuo com meus projetos, dedicado a cultivar novos hábitos, atividades mais saudáveis etc.

Logo conto mais novidades a respeito.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Winds of change


Num post recente falei que faria novas escolhas e mudaria (aos poucos) minha maneira de encarar as coisas e da minha obrigação de buscar a felicidade. E já comecei, fazendo escolhas que estão surpreendendo as pessoas à minha volta e a mim mesmo. Resolvi aprender um esporte radical, uma decisão que abrange alguns pontos importantes no meu momento de vida: uma atividade ao ar livre que não depende de companhia (namorado, amigos etc.) e me coloca em contato com a natureza, me tirando de casa e de São Paulo de vez em quando; uma atividade física nova que me estimulará a melhorar minha alimentação e meu condicionamento físico; um sonho antigo que desejava realizar mas considerava difícil demais para ser feito na minha idade -- resolvi topar o desafio e colocar minha mente e meu corpo focados neste objetivo.
Nem preciso dizer que em duas semanas muita coisa já mudou: preciso me exercitar diariamente para preparar meu corpo para este novo desafio, já faço planos de curto prazo (viagens aos fins de semana) e já mudei meus planos de médio prazo (férias em locais onde eu possa aprender mais e praticar o esporte e ainda incluir curso de língua no pacote!).
Ainda estou dando os primeiros passos portanto quero manter um ritmo lento e constante para não se tornar um episódio de fogo de palha. Como estou saindo de um quadro depressivo moderado, está sendo ótimo ver como meu humor e meu corpo estão reagindo.
Delícia mesmo foi voltar de um fim de semana onde fiz umas aulas e acabei machucando o dedão do pé e a canela... pode soar doido para quem está de fora, mas uma contusãozinha por causa de uma atividade apaixonante é uma coisa maravilhosa para quem está acostumado a ter dores no pescoço e na coluna por causa do trabalho...
Aguardem mais notícias a respeito!


=======================

Ocorreu algo curioso. Na viagem de ida, eu e uma amiga conversávamos sobre mil assuntos e falei de minha experiência com xamanismo e que uma vez tive um contato interessante com uma coruja, que surgiu do nada e me guiou por uma estrada de terra à noite.
Na véspera de virmos embora, estávamos na piscina do hotel vendo o pôr do sol quando surgiram duas corujas, que ficaram próximas de nós. Já fiquei ligado. Saímos para jantar e na volta, vi pela janela do quarto, que as duas corujas haviam se postado no telhado bem em frente ao nosso quarto. Ao acordar para virmos embora, as duas corujas continuavam ali, de plantão. Fiquei na varanda uns minutos para fumar um cigarro (dispenso censura antitabagista) e uma delas ficou olhando fixamente para mim. Minha amiga ficou impressionada por estar um sol forte e a coruja ali, tranquilamente olhando para nós.

To be continued...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

domingo, 3 de agosto de 2008

Roots

Minha mãe está de visita por uns dias. Fomos à exposição da Bossa Nova no Ibirapuera, uma experiência incrível quando estamos com alguém que viveu parte daquela época.
Numa parte da exposição que mostrava o contexto histórico da década de 40 em diante, quando fiquei impactado com a força daqueles tempos, a efervescência cultural, política, econômica, comportamental...
Minha mãe testemunhou a luta pela liberdade, a opressão militar que torturava e matava seus amigos, os sonhos de uma geração que desejava viver em paz e amar, criando um mundo melhor e mais justo.
Nasci neste contexto. Mesmo com toda a dureza com que o mundo se apresentava, mesmo com toda a violência exercida pelos fortes sobre os mais fracos, mesmo agravando os problemas políticos e sociais com um sistema cada vez mais injusto, meus pais sonhavam com um mundo melhor e acreditavam nesse sonho. E um filho seria uma semente para as transformações desejadas. Eu sou filho da esperança.
Como boa parte da minha infância foi vivida durante a guerra fria, me lembro bem dos programas de tevê que aterrorizavam a todos com a possibilidade de uma crise nuclear, de um tal botão vermelho em Washington que poderia deflagrar o conflito final entre as duas grandes potências mundiais. Hoje, só de ouvir a música do Globo Repórter, fico arrepiado. A voz de Sergio Chapelin anunciando doenças incuráveis (i.e., aids), a iminência de uma hecatombe mundial, a possibilidade de um inverno nuclear causado pela bomba, por cometas ou meteoros... Perdi noites de sono e sofria com a perspectiva de um mundo sentenciado a um destino apocalíptico. Mas meus pais acreditavam.
Nunca fui muito otimista com relação ao mundo, ao futuro... sempre disse que não teria coragem de colocar um filho neste mundo para sofrer o agravamento de tudo que eu vinha testemunhando, o aumento da violência nos centros urbanos, a crise ambiental, a falta de fé nos políticos e nas transformações sociais.
E neste contexto, contraí o hiv. Desde minha soroconversão, tenho questionado tudo que diga respeito a planos de longo prazo, relacionamentos, a construção de um futuro... como se não precisasse nem ter esperança de que algo melhor está por vir, basta viver cada momento e seguir adiante com a vida. Tornei-me um ser possuído por um pragmatismo cínico, o mundo perdeu seu colorido romântico que já tive um dia.
Mas hoje vejo que isso é mais que um equívoco, é uma traição ao amor e à esperança dos dois jovens que me colocaram nesse mundo na certeza de que o ser humano é capaz de transformá-lo, de torná-lo melhor. Devo agradecer pela fé que foi depositada em mim mas tenho que, no mínimo, nutrir sentimentos e pensamentos esperançosos -- e por que não poéticos, românticos...?
Portanto, a partir de agora comprometo-me a buscar diariamente pensamentos mais positivos para desenvolver uma percepção mais otimista da vida. Não poderá ser uma guinada brusca, pois seria artificial. Nem poderei me iludir numa vibe Poliana, pois nem seria compatível com meu intelecto e minha experiência de vida. Mas posso sim, e sei que posso sempre, referir-me a algo superior, um desejo de completude vertical e horizontal, para tirar os pés desse pântano de pessimismo, sentimentos de vítimização e de culpa...
Se a história traz o testemunho de infinitos milagres, a própria vida é um deles mas há tantos outros que mostram a capacidade de superação e realização de indivíduos e povos, posso me alinhar com aqueles que acreditaram e venceram.
Aguardem-me!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Rotina médica

Fui a uma médica hoje, para acompanhamento. Levei os exames desde sempre e ela analisou cuidadosamente um a um. 

Ficou bem impressionada com o estado geral e os números específicos (CD4 e carga viral), mas me pediu para tomar uma bateria de vacinas (tétano, hepatite A, gripe....).

Viu a doideira do exame negativo que tive 1 mês após o primeiro exame positivo e comentou: «isso é só para pirar a gente, né?»

Fez aquelas perguntas de sempre sobre drogas e sexo com proteção, quando perguntou se eu usava camisinha e ela mesma falou «não, né...?» e eu falei «sempre, sempre me protegi muito.»

«Ué, mas como....»

Aí contei a ela como aconteceu e meus olhos se encheram de lágrimas. Vi que os olhos dela também, ela ainda apoiou a testa na mão enquanto escrevia, mas seus olhos ficaram avermelhados e ela fez algum comentário do tipo «que coisa, né...?

Essa empatia faz uma diferença brutal para quem vai ao médico lidar com assuntos tão duros.

Num exame antigo que eu folheei, ainda da época pré-hiv, vi o resultado «não reagente» e meu coração palpitou fortemente, cheguei a ficar meio tonto...

Mas, como ela disse, a batalha está aí, vamos enfrentá-la!

Pesadelo

Uma amiga (que sabe do meu status) virou para mim e disse: «Você está com hiv!!» e nisso apareceu flutuando no ar «Hiv» «hiV» «HiV»  em letras amarelas.

Meu desespero foi enorme. Acordei ofegante, o coração disparado, o corpo tenso... «Ufa! Foi só um pesadelo..»

Foi?

terça-feira, 29 de julho de 2008


Esse outdoor foi criado por um estudante de Wisconsin, vencedor da segunda
rodada do concurso “What If It Were You?”.

E a luta contra o preconceito continua...
Hoje fui fazer uma consulta de rotina com uma dentista.

O comentário dela: "Dentes bem cuidados, escovação excelente, você está de parabéns..."

Que ironia... sempre cuidei muito da minha saúde. A primeira vez que tive uma doença venérea, foi logo que conheci uma namorada minha: uma secreção no pênis, que não foi diagnosticada mas que se resolveu com um antibiótico em dose única.

Na segunda vez, eu senti uma aspereza na mucosa anal e um amigo dermatologista me examinou e ficou impressionado, como eu senti microverrugas de hpv, a maioria dos pacientes chega com um quadro bem mais avançado. Eu fiquei péssimo e ele disse que não era para me apavorar, não significava que eu tivesse me exposto demais nem era razão para eu me preocupar... Como eu sempre me protegi muito, fiquei muito chateado com aquilo e fiz o tratamento com proctologista, me livrando das verrugas bem mais rápido do que o previsto.

Mas como a vida prega peças, acabei me descobrindo, anos depois, hiv+. Desde então, mantive todos os cuidados e redobrei a atenção.

Há uns dois meses, tive um pequeno episódio de herpes no pênis. Putaquiupariu! Nunca havia tido herpes na vida, tinha que surgir agora? Tenho me comportado como uma freira comportada (há as que não se comportam...) e ainda me aparece isso? Entrei em pânico, com medo de ser sinais da "doença". Consegui limpar a área rapidamente sem aciclovir nem nenhum outro remédio para herpes, somente usei um fitoerápico pernambucano e gel de aloe vera da Forever Living.
Há umas duas semanas, novas vesículas começaram a surgir, para o meu terror... Conversando com um amigo médico, não é nada para me preocupar, meu corpo está reagindo e criando os anticorpos.

Superando a neura, não posso deixar de pensar o quanto que sofro com o medo de desenvolver a "doença" e enfrentar quadros duros de se controlar.

Outro dia, recebi um email de um site internacional de relacionamentos para hiv+. Era o contato de um cara de São Paulo de 25 anos. Como nem lembrava desse perfil nesse site, nem estou à procura de relacionamento, demorei a responder (tive que recuperar a senha) e logo eliminei o perfil do tal site. Conversamos brevemente sobre hiv etc. Ele descobriu ser soropositivo e começou a tomar o coquetel em seguida. Teve uma reação brutal, precisou de 40 dias de licença para contornar os efeitos, incluindo manchas vermelho-sangue por todo o corpo. Para piorar, após algum tempo, sua carga viral voltou a aumentar e a medicação teve que ser trocada. Com a nova medicação, tudo funcionando bem!

Caramba, trocar experiências com outros hiv+ é incrível, mas confesso que fiquei muito apavorado... acho que me nego ao máximo encarar o que vem pela frente...

Coisa boa: ele me recomendou uma infectologista aqui em Sampa. Devo ir depois de amanhã, depois eu conto.

terça-feira, 22 de julho de 2008

ELEVEN THINGS I HAVE LEARNED FROM
LIVING WITH HIV FOR OVER 20 YEARS

by
Dennis de Leon

1. BE THE BEST INFORMED PERSON YOU KNOW ABOUT MEDICAL TREATMENTS. EVERY YEAR, DOUBLE YOUR KNOWLEDGE ABOUT THE DISEASE, HOW IT GROWS AND HOW IT CAN BE DEFEATED.

2. BE AGGRESSIVELY INVOLVED WITH CLINICAL TRIALS BECAUSE THEY OFFER THE REGULAR HEALTH MONITORING AND ACCESS TO NEW MEDICATIONS. DEVELOP THE ABILITY TO TELL WHEN YOU ARE GETTING A PLACEBO AND, IF YOU WANT, OPT OUT OF THE TRIAL.

3. LIVE LIKE YOU ARE GOING TO DIE TOMORROW. TRY THINGS YOU NEVER DREAMED OF AND STOP “RESUME BUILDING.” DO THINGS YOU ENJOY AND THAT PAY YOU SOMETHING FOR DOING IT. SO IF YOU DIE YOU WERE AT LEAST DOING WHAT YOU WANTED.

4. SEE THE BEAUTY OF THINGS AND PEOPLE AROUND YOU AND IF THEY DO NOT APPEAR BEAUTIFUL, WORK HARDER TO SEE THE BEAUTY IN THEM. WHY? BECAUSE BEAUTY CAN SUSTAIN YOU.

5. NEVER BECOME A “VICTIM” OR THE DESIGNATED PERSON WITH AIDS IN THE ROOM. YOU ARE MORE THAN THAT AND SHOULD NOT BE DEFINED BY A DISEASE. YOU ARE NOT A VIRUS SO DON’T ACT LIKE ONE.

6. MAKE YOUR FAMILY PROUD. MY WAY WAS TO GIVE THEM NEWS OF THINGS I ACCOMPLISHED, NEWS WITH MY NAME IN IT SO THEY CAN CIRCULATE THE WORD TO ALL THE EXTENDED FAMILY AND FRIENDS. GOD KNOWS I HAVE PUT THEM THROUGH GRIEF SO MUCH GROWING UP. THEY DESERVE AT LEAST A FEW BRAGGING POINTS. ALL THEY REALLY CARE ABOUT IS THAT YOU WERE VALUABLE AND VISIBLE TO OTHERS AND THAT IT REFLECTS WELL ON THEM.

7. DEVELOP AN ACTIVE SENSE OF OUTRAGE AND ENCOURAGE OTHERS TO DO SO. THIS IS SO CRITICAL. PEOPLE WILL THINK YOU ARE ASLEEP UNLESS YOU SHOUT BOO TO THE POWERS THAT BE AROUND YOU ONCE IN A WHILE. IF YOU ARE NOT OUTRAGED BY INJUSTICE THEY WILL BURY WITH INDIFFERENCE, BUREAUCRACY AND PITY BEFORE YOU ARE DEAD.

8. SPREAD LOVE WHERE EVER YOU GO. NO ONE LIKES YOU IF YOU ARE ANGRY OR REGRETFUL ALL THE TIME. KISS, HUG, REWARD, SURPRISE, AND DO ALL THESE AND MORE LOVING THINGS TO COMPLETE STRANGERS AND ACQUAINTANCES IN YOUR LIFE. FOR EXAMPLE, LOVE IS TO GET ON AN ELEVATOR AT THE FIRST FLOOR AND CONNECT WITH EVERYONE BEFORE YOU GET OFF AT YOUR FLOOR.

9. SEE THE CONNECTIONS. NEVER THINK YOU ARE THE ONLY ONE. YOUR NEW FAMILIES ARE PERSONS WHO BECAME INFECTED THROUGH DRUG USE, INDIGENT GAY MAN OR TRANSGENDERED PERSONS AND WOMEN WHO TRUSTED THEIR SEX PARTNERS. THE SHAME, PRIDE, PAIN, SCORN AND FIGHT FOR RESPECT OF ALL THESE GROUPS MUST BECOME YOURS BECAUSE YOU ARE PART OF THEIR WORLD.

10. DON’T FORGET SEX. IT FEELS GOOD AND CAN BE DONE SAFELY. DON’T STOP DOING IT EVEN WHEN YOU ARE LIVING WITH HIV/AIDS. IT’S AS MUCH A PART OF LIFE AS SPRING IS A SEASON.

11. IN ALL OF OUR STRUGGLES FOR FAIRNESS AND EQUALITY REMEMBER THIS: THERE ARE NO PERMANENT FRIENDS OR PERMANENT ENEMIES ONLY PEOPLE SHARING COMMON INTERESTS.

Via Regan's POZ Blog

terça-feira, 8 de julho de 2008

surpresas da vida

Hoje eu estava conversando pelo messenger com um ex-namorado francês. Desde que nos vimos pela última vez, há 5 anos, falamo-nos pouco, mas ficou sempre um carinho muito grande guardado e os contatos que tivemos por telefone e por email foram muito calorosos.
Conversamos um bocado sobre a vida, atualizando as novidades de cada um: onde estamos morando, o que temos feito etc.
Lá pelas tantas, falei para ele: você ainda não me falou TUDO sobre sua vida, pode contando os detalhes. Sei lá por que disse isso, mas queria saber mais mesmo da vida dele.
Ele levou um tempo para escrever e eu meio que pressentia o que ele estava prestes a me contar: terminou relacionamento, altos e baixos e recentemente descobriu ser hiv+.
Meu coração acelerou, eu levei um susto, pedi para ele parar tudo, respirei, perguntei como assim?, falei que estava impactado e que não acreditava no que ele estava me dizendo. Parecia que eu já imaginava isso, mas meu susto foi tão grande que ele me pediu desculpas por ter falado de maneira tão direta, que não havia outra forma de dizer tal coisa etc. Rapidamente eu falei que ele não precisava pedir desculpas e lhe falei de meu status. Aí o susto foi dele, que ainda perguntou por que eu nunca lhe dissera. Expliquei que não saio divulgando isso aos 4 ventos, que obviamente acabaria dizendo algum dia, mas pela distância e pelos contatos muito raros, não houve razão para que eu falasse. Ele entendeu e falou que ele também é muito reservado quanto ao status dele.
Daí pra frente, conversamos sobre o assunto, sobre a nova realidade, o medo da rejeição, os medos em geral. Foi engraçado, um tentando colocar o outro para cima, ajudando o outro a romper com seus próprios preconceitos e barreiras...
Uma coisa que ele falou que me tocou: há alguns meses lhe enviei uma foto minha que ficou muito boa. Ele recebeu e não teve coragem de responder, como se fosse um símbolo de uma outra vida que ele não poderia ter de novo. Foi mais ou menos na mesma época em que ele descobriu ser hiv+ e a minha foto era a lembrança de um outro tempo, de uma outra vida. Entendi perfeitamente, também sinto isso: um tempo em que tínhamos escolha, quando havia maior liberdade para viver as experiências.
Pensei nisso, no que significava essa "liberdade" -- que acabamos aproveitando mal (deixando de nos cuidar?), mas também por que essa liberdade havia acabado.
Afinal de contas, de onde vêm as barreiras que cerceiam essa "liberdade"? E mais: que liberdade é essa que acreditamos ter e que, pior!, acreditamos perder?
Na era do consumo, blá blá blá, hedonismo, blá blá blá, prazeres e relacionamentos descartáveis, blá blá blá, acreditamos que tudo pode ser usado e dispensado, como se as relações, as coisas, os afetos e até mesmo as pessoas fossem descartáveis, como se nós mesmos fôssemos recicláveis, autolimpantes. Uma experiência é apenas uma experiência, entra para um banco de dados e logo pulamos para o próximo registro. Sem qualquer moralismo (seria hipócrita de minha parte), usamos nossos corpos, afetos e relações de maneira irresponsável sim. A fidelidade conjugal está sendo relativizada até o limite, o sexo casual está se tornando uma prática corriqueira, os encontros e desencontros estão cada vez mais rápidos. O processo de se criar um relacionamento está truncado, as etapas de formação da intimidade estão invertidas e quando não dá certo (surpresa!) logo partimos para outra. Hoje o que eu mais ouço é: "ninguém quer nada sério", mas esse "ninguém" nunca inclui o declarante.
Quando falamos da perda da liberdade que acreditávamos ter, falamos de uma posição confortável, da qual se pode experimentar coisas e pessoas e sempre manter abertas muitas portas à nossa frente. Por conta dos estigmas da doença e de toda a rejeição a que estamos expostos, estas portas se fecham e saímos do nosso conforto.
Mas o engano começa antes mesmo de o hiv entrar em nossas vidas. Tal liberdade não existe. Simplesmente continuamos com os mesmos medos que sempre tivemos, com o agravante fator hiv+ que requer uma abordagem mais responsável e cuidadosa em relação a nós mesmos e ao outro. Mas essa responsabilidade e esse cuidado não deveriam estar condicionados ao status hiv.
Sério, consciente da necessidade de lutar contra toda carga de culpa, senti em muitos momentos que o hiv vem apenas me mostrar o que eu já deveria saber desde sempre: é preciso respeitar meu corpo, minha integridade física e emocional, a saúde dos meus relacionamentos; é preciso reconhecer o outro como digno do mesmo respeito e a relação que surge do encontro como algo quase sagrado do que há de mais belo entre dois seres humanos -- o potencial de se cultivar amor e criar uma nova realidade, uma nova vida. E o impacto desse amor sobre as outras pessoas.
Não somos tão livres se estamos presos a condicionamentos e instintos. Logo, não se pode perder o que não se tem. Liberdade é aprender a amar verdadeiramente a si mesmo e ao outro. Não há amor que não seja libertador. E esse amor, quando surge, não se limita por nada, nem mesmo por um vírus. Assim espero.
Uma história interessante e intrigante sobre a jornada de um homem até se descobrir soropositivo. Um pouco longa, mas vale a leitura:

sexta-feira, 27 de junho de 2008

hiv strikes back

De acordo com estudos do Ministério da Saúde, a população gay e de homens que fazem sexo com homens (HSH) tem 11 vezes mais chances de contrair o vírus HIV do que a média dos homens heterossexuais. Enquanto, entre a chamada "população em geral” de 15 a 49 anos, a taxa de incidência é de 19,5 casos a cada 100 mil habitantes, a população gay e HSH contabilizaria 226,5 por 100 mil.


Desde o surgimento da aids, o movimento glbt batalhou para descaracterizá-la como doença gay. O título "paciente zero", atribuído a um comissário de bordo canadense que teria disseminado a doença em São Francisco, foi duramente criticado. Por anos, o perfil da doença foi mudando, o conceito dos "grupos de risco" foi perdendo a força e o hiv/aids deixou de ser a doença de drogados, gays etc.

De alguns anos para cá, depois de um crescimento considerável de casos de contaminação entre heterossexuais (na segunda metade do anos 90), as autoridades de saúde pública voltaram a chamar a atenção para os novos casos entre jovens gays. Em 2002, um surto de sífilis e gonorréia entre jovens homossexuais de Nova York alarmou as autoridades para o que viria pela frente e hoje se constata em números ainda imprecisos: os gays são novamente um grupo relevante no que respeita os novos contágios de hiv, com aumento de número de contaminados que varia de 70 a 85 % dos novos casos.

Com o surgimento dos arv's, as pessoas começaram a relaxar quanto à prevenção (afinal, o diagnóstico hiv+ não é mais uma sentença de morte, right?). Logo que começaram as notícias sobre os bug chasers, a volta do barebacking já era percebido até mesmo nas produções pornográficas gays, que desde os anos 80 eram um exemplo até mesmo para as produções heterossexuais pois todos os atores usavam camisinha ao menos nas cenas de penetração e não havia contato oral com o esperma. Hoje, as produções de barebacking são numerosas e já há um caso na Inglaterra onde alguns atores se contaminaram durante a produção de um filme. A ciência andou algumas casinhas para frente, mas o comportamento das pessoas mostra que estamos andando algumas casinhas para trás!

Obviamente, a luta contra o estigma de doença gay visava principalmente rechaçar o discurso do establishment moralista-religioso de igrejas cristãs e entidades pró-família blá blá blá, segundo o qual a doença seria um castigo pelo comportamento diabólico, anti-cristão blá blá blá. Uma coisa é um fato concreto: os gays são mais hedonistas e buscam o prazer sexual de forma mais intensa e inconsequente em saunas, quartos escuros etc. Outra coisa, é afirmar que a doença é um castigo divino e que os gays estão condenados ao inferno blá blá blá, até por que o que se poderia falar das lésbicas? Elas não são tão relevantes nas estatísticas porque seu pecado é menos grave? E as mulheres e crianças da África subsaariana, são condenadas pelo fato de serem negras e inocentes? O argumento religioso é uma piada, claro...

Portanto, vale ressaltar o seguinte: os novos casos estão concentrados em jovens gays que não testemunharam o terror causado pela doença nos anos 80 e início dos 90 (os casos entre gays mais velhos está caindo); adolescentes gays não procuram atendimento médico na rede pública por medo de preconceito; o surgimento dos arv's está encorajando a prática de sexo inseguro; entre os heterossexuais, as meninas respondem pela maioria dos novos casos.

Uma informação importante é que se prevê uma queda considerável na produção de novos medicamentos contra o hiv/aids. Depois do boom que testemunhamos nos últimos 15 anos, a perspectiva de grandes novidades é muito pequena e não se sabe no que isso pode resultar num prazo médio-longo. Os laboratórios já estão lucrando e não há novas grandes linhas de pesquisa que dêem esperanças de uma verdadeira cura.

Todos devem aderir aos meios de prevenção. Transar sem camisinha não pode ser prova de confiança e amor nem uma fonte de prazer imediato. Sexo sem camisinha pode ser bom, mas sem hiv é melhor!

======================================

Enquanto isso em Roma...

O Papa Bento XVI, o papa do novo milênio, prega contra o uso da camisinha e o estilo de vida dos homossexuais...

A decadência moral, religiosa e política da igreja católica será corrigida com essa postura de sua autoridade máxima?

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Lost Boys+


Esta noite sonhei que era um vampiro.
Havia muitas outras pessoas no sonho, poucas conhecidas, que iam se tornando vampiros quando eram mordidas. Era como uma praga que se disseminava. E como tal, o status de ser vampiro era claramente ligado ao hiv: um vampiro era um hiv+ que, ao morder um não-vampiro/hiv-, este se tornava vampiro/hiv+. Assim, se formava um exército de vampiros/hiv+. Coisa de filme.

Fez-me lembrar de um sonho que tive há alguns meses. Estava dormindo com o ex. Sempre dormíamos despidos e abraçados. Uma noite, dormíamos assim e sonhei a noite toda que estávamos dormindo daquele jeito quando o tesão nos acordou e transamos. Isso nunca aconteceu, não éramos de acordar no meio da noite para transar. Mas no sonho, mal-acordados, transávamos sem camisinha. No fim da transa, o choque: transamos sem camisinha! E agora? Pânico!
Meu medo de contaminá-lo sempre foi muito grande. E ele também tinha esse medo, sempre tomávamos muito cuidado e conseguíamos ter prazer apesar da neura do contato. Lembro perfeitamente que ele nem tocava no meu esperma, afastava seu corpo, suas mãos, a cada vez que eu estava prestes a ejacular sobre mim mesmo.
Uma vez, ao mudarmos de posição, a camisinha saiu. Foi muito rápido, por menos de 5 segundos o penetrei sem a camisinha no lugar. Mas deu aquele pânico nele, eu o acalmei e falei que havia acabado de acontecer. Conversamos depois sobre o assunto e passou a neura. Fiquei muito mal...
Esse medo é uma constante. Uma das minhas neuras de relacionamento hoje não é apenas ser aceito como hiv+, mas também o de expor alguém ao hiv.

domingo, 1 de junho de 2008

Choque de galáxias


Quando eu era pequeno, um pesadelo constante vinha me aterrorizar todas as noites: como vagando pelo espaço, num movimento em espiral, eu ia sumindo no vazio. Aquela sensação vertiginosa de sumir no nada me fazia acordar assustado, com o coração acelerado. E eu tinha 4 ou 5 anos, não mais que isso.

Os conceitos de finitude e infinitude eram assustadores. A idéia de que uma existência muito maior e mais ampla do que meu limitado mundo familiar -- minha casa, meus pais, meu irmão mais velho -- assustava porque incompreensível. Por outro lado, a possibilidade de finitude, o medo de que aquilo que me era familiar e concreto pudesse terminar -- meus pais morrerem e, posteriormente, minha própria morte, o fim da existência, o fim do mundo -- era igualmente incompreensível. O medo da morte.

Vagando pelos canais da tv a cabo, fui parar num programa sobre o futuro de nosso universo, o caminho que percorremos rumo ao trágico fim do choque das galáxias, a morte do Sol e a transformação fatal de todo o universo. Uma perspectiva nada positiva para os próximos bilhões de anos... Há alguns anos, eu teria perdido a noite de sono pensando nesse fim trágico.

Lidar com a finitude -- a morte -- era aterrorizante para um menino que precisava crer na eternidade da vida que mal havia começado a conhecer. E o que viria depois? Além da decomposição do corpo físico, o que haveria do outro lado? Escuridão? Silêncio? Frio?

Como não tive uma formação religiosa (que facilita e simplifica essas questões), consegui encontrar respostas para essas perguntas aos poucos, com uma intensa busca espiritual e filosófica. Com o estímulo de meu irmão, por exemplo, refleti sobre a realidade como algo efêmero e ilusório. Uma noite, antes de dormirmos, já com as luzes apagadas, meu irmão veio com o seguinte papo: "você já pensou que nosso mundo pode ser simplesmente o sonho de alguém? Tudo isso é apenas um sonho de alguém que pode acordar a qualquer momento..." E eu, aos 8 anos, entrei em contato com Maya graças ao meu irmão 4 anos mais velho e que dormiu tranquilamente enquanto eu lutava contra a idéia de que tudo poderia terminar a qualquer momento. Difícil preservar a inocência assim...

Hoje, meu irmão acordou deste "sonho" e vive noutra realidade (ou não?) e já não me angustio da mesma maneira com essa possibilidade tão ameaçadora.

Não há um dia em que eu não me lembre que dentro de mim percorre um vírus que pode abreviar tudo isso -- e esse "sonho" terminar. O que assusta não é a brevidade com que isso pode acontecer, mas o processo doloroso até o fim. Não estou sendo pessimista nem estou acometido por uma negatividade colossal. Aos 5 anos de idade, era preciso acreditar na infinitude da vida; aos 20, buscava a infinitude do momento; hoje, espero aproveitar cada momento com qualidade (não intensidade).

E isso deveria valer para toda e qualquer pessoa: aproveitar com qualidade cada dia, não contando com a quantidade do porvir para gozar o que se espera e deseja. Para mim, é uma atitude que tento manter a todo custo.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

escolhas


Hoje eu tava falando com meu ex, com quem convivi durante 10 anos. Ele falou algo que foi doloroso para ele após nossa separação e eu meio que me senti culpado pela escolha de ter me separado dele, como se eu fosse responsável por seu sofrimento. Por outro lado, sempre me reporto a escolhas feitas antes da minha soroconversão para ver onde errei. Quanta culpa carregamos na vida!
Conversamos longamente sobre nosso processo de separação, encontros e desencontros. Mas o que foi mais esclarecedor mesmo, ao menos para mim, foi como fiz escolhas na vida das quais de alguma forma me arrependo hoje -- ou simplesmente não compreendo porque fiz tais escolhas e escolheria diferente se pudesse voltar atrás E teria escrito a história da minha vida de outra forma, o que logicamente excluiria o hiv da minha vida.
Bom, ficou claro como me sinto culpado por ter me separado dele daquela forma e por toda a dor que causei. Mas também me sinto culpado por ter me infectado e como uma simples escolha teria evitado isso tudo.
No restrito mundo de nossas carências, vivemos em função de necessidades muito básicas: carinho, amor, atenção, afeto, poder etc. À medida que amadurecemos, essas necessidades mudam de cor, nome e forma, mas continuam sendo necessidades muito básicas. Não vamos além dessas necessidades, apenas sofisticamos a maneira como as expressamos e apresentamos. E o ego tem um papel crucial na busca da satisfação dessas necessidades básicas. Damos nomes elaborados a coisas simples, vemos um castelo onde há uma barraca de campanha. Chamamos de amor o que não passa de um band-aid. E nos satisfazemos com o que atende superficialmente nossos sentidos e nossas expectativas mais imediatas.
E as sequelas são igualmente equivocadas: uma desilusão "amorosa" não passa de uma chupeta que pacifica desejos sem preencher os anseios da alma, uma frustração não passa de um pequeno desafio ao nosso ego em busca de auto-afirmação.
Dimensionar o que é realmente importante é muito difícil. Fazer escolhas conscientes e arcar com as consequências das mesmas é mais difícil ainda. Aceitar o impacto dessas escolhas é quase impossível quando isso se traduz num novo modo de se viver, relacionar e poder fazer novas escolhas.
Tudo na vida traz um aprendizado. Os relacionamentos são o laboratório mais importante de que dispomos. O hiv é um dos resultados mais difíceis de se lidar e superar.
Fazemos escolhas; deveríamos arcar com as consequências. O difícil é ir além disso tudo e ver que escolhas são feitas através de nós, que cada desvio em nosso caminho, cada desafio inesperado não é um castigo ou uma reprimenda divina ao nosso comportamento, mas apenas um pequeno nó a ser desfeito conscientemente -- independente das consequências que ele possa ter.

Choice is the essence of what I believe it is to be human.
Liv Ullmann

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Stephen Fry: HIV & Me

"It feels better without a condom? It feels a lot better having sex without hiv!"

Em seu documentário produzido pela BBC, Stephen Fry mostra a realidade atual do hiv/aids no Reino Unido e no mundo. Além de dados estatísticos sobre o aumento do número de infecções entre heterossexuais e jovens gays (que acreditam que o pior que pode acontecer é terem que tomar um comprimido por dia!!), ele mostra a realidade de quem convive com o vírus há mais de 20 anos, vai à África do Sul ver de perto a política governamental no combate e no tratamento do hiv, revisita Uganda e São Francisco, visita hospitais e conversa com médicos e ativistas sobre acesso a novos medicamentos e campanhas de prevenção.

Entre depoimentos esperançosos, histórias tocantes e muita reflexão sobre o por quê de tantos novos casos a cada ano, o documentário desmistifica a crença de que com os medicamentos o hiv deixou de ser um problema -- mas também mostra como hoje o diagnóstico hiv+ não é mais uma sentença de morte dolorosa e sofrida.

Dentre alguns momentos realmente emocionantes do documentário, fiquei especialmente tocado pelas mães hiv+ de Uganda. Lá, elas fazem um livro de memórias para seus filhos, uma espécie de diário com fotos, mensagens estimulantes, histórias familiares e tudo que elas gostariam que os filhos soubessem já que elas não estarão mais com eles nem os verão crescer. Difícil de acreditar, mas o Memory Book feito por essas mães com tanto carinho e resignação é a forma que elas encontraram de estarem presentes na vida de seus pequenos depois que a aids der cabo de suas próprias vidas. Uma frase que aparece num desses livros diz assim: "você é responsável pela sua vida e pela vida de seu irmão". Vai dormir com esse barulho...

Fry ficou chocado com o preconceito sofrido pelos hiv+ e como os estigmas da doença ainda criam uma barreira de ignorância entre os britânicos (e no resto do mundo também, claro). Uma jovem e linda moça hiv+ fala de sua tristeza por acreditar que viverá o resto de seus dias sozinha (já que nenhum homem terá coragem de topar a parada ao seu lado) -- o que ele chama de "crise social do hiv", agora mais grave do que a "crise médica" já que as enfermarias especializadas deixaram de acumular dezenas de doentes esperando a morte.

Uma senhora hiv+ que diz em suas palestras para adolescentes que a cara do hiv é a "vovozinha sentada ao seu lado no trem", casos milagrosos de crianças que nasceram com o hiv e conseguiram sobreviver até as primeiras terapias anti-retrovirais garantirem uma vida quase normal, histórias trágicas de quem criou resistência aos medicamentos existentes, casais sorodiscordantes e crianças hiv- nascidas de pais ou mães hiv+. A dureza da realidade sempre amenizada com um pouco de esperança.

Fry ainda conclui que as campanhas devem incentivar as pessoas a fazerem o exame anti-hiv (1/3 a 1/2 dos britânicos hiv+ não sabem de sua condição) e enfatizar a importância da prevenção sem reforçar os estigmas da doença. Mais e mais pessoas são infectadas todos os anos e não lhes faltam informação -- apenas consciência.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

hiv e internet

Este artigo da Poz Magazine fala da relação entre a mudança causada pela internet no comportamento de homens gays e bissexuais e o aumento do número de novas infecções pelo hiv -- que, em NY, foi de 32% entre 2001 e 2006.
Um fator interessante é a amnésia cultural sobre a epidemia, já que os jovens de hoje não sofreram o impacto dos primeiros anos da aids e iniciaram a vida sexual na era dos ARVs. Outro fator importante, é que os jovens não estão fazendo exame de hiv -- e a maior parte das infecções é causada por pessoas hiv+ ainda nos primeiras semanas de infecção, quando ainda acreditam estarem negativas e com a carga viral muito alta. Após o diagnóstico, os hiv+ deixam de ter sexo desprotegido com parceiros hiv- ou que desconheçam seu status e muitos procuram outros hiv+ como parceiros sexuais. E muitos homens hiv- acreditam que a prática de sexo anal desprotegido é segura (ou oferece menos risco) se desempenharem o papel ativo na relação.
Como a internet facilita o encontro entre pessoas que buscam a mesma coisa, pulando as etapas normais de uma aproximação (e, na minha opinião, criando uma imagem ilusória daquele que está do outro lado), o sexo casual tornou-se mais comum e mais casual.
A intensificação da atividade sexual dos homens gays aumenta a chance de vacilos na prevenção de DSTs. Um grupo de jovens gays de 20 anos teriam em 1995 2,39% de se infectarem. Em 2005, esse número aumentaria para 30% !!! E em 2015, quando chegassem aos 40 anos, 40% seriam hiv+. Ou seja, a internet não faz com que as pessoas assumam mais riscos, mas simplesmente elas fazem mais sexo e acabam se expondo mais.
O que vem sendo feito até agora para ampliar a consciência dos riscos de contágio e da importância da prevenção tem se mostrado ineficaz. É preciso encontrar uma maneira de abordar os internautas gays para educá-los sobre meios de contágio, a importância de realizarem o exame de hiv, de usarem o preservativo e sobre outras DSTs, como herpes, sífilis, hpv e hepatite C.


G. I Jonny -- Campanha online da BBC
voltada para jovens de 16 a 24 anos

terça-feira, 6 de maio de 2008

Jogo: Pos or Not

Jogo criado pela Poz Magazine (link ao lado) para lutar contra os estigmas e o preconceito relacionados ao hiv/aids.
Joguei um pouco e me flagrei com meus próprios preconceitos. TODOS temos um longo caminho pela frente nesta luta. É importante saber as histórias daqueles que convivem com o hiv -- e saber que não estou sozinho nesta.


domingo, 27 de abril de 2008

Time to Deliver - Universal Action Now

2008 É o ano da XVII Conferência sobre a Aids, a ser realizada no México, com o tema Ação Universal Já. A conferência de 2006 teve como tema Hora de Agir, conclamando a todos para uma ação global mais eficiente em todas as frentes de luta contra o hiv e a aids.
O vídeo abaixo é da conferência de 2006 e foi inspirado na visão do que o hiv/aids serão daqui a 25 anos se essas ações não forem tomadas desde já, fazendo uma projeção utópica de 25 anos no futuro, quando os maiores problemas da humanidade parecem resolvidos (água, educação, o câncer...).



Encontrei este vídeo pelo site da AVERT, que reúne posters, fotos e vídeos sobre hiv/aids. A galeria de posteres mostra como as campanhas evoluíram em muitos aspectos, ampliando o foco de acordo com a evolução da pandemia com mensagens cada vez mais complexas e abrangentes, focalizando problemas específicos como a transmissão vertical, minorias raciais e sociais e direitos humanos em geral. Mas, desde cedo, a conscientização sobre meios de contágio, a importância crucial da prevenção pelo uso de preservativos, a luta contra o preconceito e a desestigmatização dos chamados grupos de risco já estavam presentes nas mensagens de conscientização.

the wall

Hoje fui à Benedito Calixto com uma amiga. E no meio de tanta gente, tantos olhares, tanta paquera, percebi como estou com fobia de conhecer alguém. Qualquer possibilidade, mesmo que remota, de me aproximar de um cara é assombrada pelo pensamento: caralho, sou hiv+ e esse cara não vai querer nada comigo -- nem sério, nem não-sério.
É automático, não tenho controle. Nem adianta tentar usar fórmulas de O Segredo e pensar positivamente porque não rola. E olha que estou falando de troca de olhares, nem um passo além disso eu permito que aconteça. Tudo bem que sempre fui muito tímido e só dava algum passo muito raramente, sempre em tiros certeiros. Mas agora eu nem me permito jogar com a sedução, porque se a coisa avançar para algum contato direto, eu terei medo de me interessar pelo cara. Se eu me interesso por ele e vice-versa, a coisa pode seguir mais adiante e eu vou ter muito medo de falar de meu status e ser rejeitado. Então, porque não evitar logo todo esse aborrecimento e abortar a missão logo de cara?
Um amigo me sugeriu a seguinte estratégia: vou seguindo naturalmente e, num momento oportuno, se for o caso, jogo o assunto sem falar particularmente de mim mesmo para ver a reação do cara. Daí, posso saber se sigo mais adiante ou não... porra, além de me dar preguiça de nadar para morrer na praia, não sei em que ponto teria segurança de me expor. Quando exatamente eu teria a coragem de tocar no assunto? Vou ter que esperar o ponto de não-retorno? Vai parecer que estou cozinhando o cara....
Afora isso, eu já tentei essa estratégia antes e não consegui perceber nenhuma reação que me servisse. E mais: mesmo que o assunto fosse abordado ao ponto de o cara falar "imagina, isso não pode ser um impedimento para fulano se relacionar com beltrano", uma coisa é falar de terceiros -- outra é lidar com o problema diretamente.
Como já disse antes, não julgo ninguém por ter esse tipo de reação. Eu mesmo não sei como lidaria com essa questão há 2 anos. Mas agora que estou na posição mais desfavorecida, ainda não consigo agir de maneira natural e ter segurança para avançar e me expor ao risco de ser rejeitado.
Se fosse um sexo casual e eu tomasse todos os cuidados para não expor o cara, eu teria necessariamente que falar antes sobre meu status? No caso de uma paquera, se eu chegasse a transar com o cara sem falar antes, como ele reagiria se eu falasse depois?

Começar um relacionamento nunca é fácil. Neste contexto, parece-me impossível.

To be continued...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

positive vibrations

Tenho um amigo que nunca fez o exame anti-hiv. Ele se recusa a fazer, prefere não saber. A primeira vez que eu saí com um cara, a camisinha estourou e eu fiquei em pânico. Liguei para ele perguntando se ele havia feito ou se faria o exame. Ele disse que nunca havia feito e não pensava em fazê-lo.
O medo de saber é grande. Todos sabem o quanto se expuseram e quantos riscos correm a cada relação que não seja 100% protegida -- e quase ninguém tem relações 100% protegidas, do início ao fim (conheci poucas pessoas que faziam sexo oral com preservativo).
Mas fazer o exame é essencial. Eu fazia todos os anos, 2 vezes ao ano. Poucas vezes tive medo do resultado. Quando saiu positivo pela primeira vez, eu não esperava e não quis acreditar. Fui surpreendido e neguei até onde pude. Pesquisei todos os sites negacionistas e procurei uma saída para aquela situação. Pensei em me matar, pensei em fazer 1000 besteiras.
Um ano e meio depois, não posso dizer que seja fácil conviver com essa realidade. Nem vou dizer que estou tranquilo e que minha vida não mudou em nada por causa do hiv. Mas posso afirmar: é melhor saber do que ficar na ignorância, para se proteger e para proteger a quem se ama.
Para aqueles que tiveram o diagnóstico recentemente, posso dizer o seguinte: não é o fim do mundo. Muitas coisas mudam, com certeza, mas não é o fim do caminho. Há muitas maneiras de se lidar com o hiv que não necessariamente nos colocam a cabeça numa guilhotina. Há vida após o diagnóstico do hiv!
Mudei muito minha maneira de ver a vida e, principalmente, o futuro. Já fui muito pouco prudente e inconsequente nas minhas relações e na minha maneira de lidar com a minha vida. Hoje sou um pouco mais criterioso: não posso expor ninguém sem que ele saiba de meu status, não posso me expor demais, não posso me dar ao luxo de seduzir e me envolver com qualquer um... Não faço planos de longo prazo, mas nunca fiz. Sempre fui meio incrédulo com relação ao futuro (meu e da humanidade). Mas ainda tenho alguns sonhos e aspirações que pretendo realizar: viagens, experiências, conquistas...
Ter encontrado (mesmo que virtualmente) algumas pessoas que vivem com este mesmo problema tem me ajudado a lidar com isso tudo. Ler sobre a experiência alheia sempre ajuda. Os relatos podem ser inspiradores, assim como também podem ser um balde de água fria. Mas sempre é bom saber que não estamos sozinhos. Outras pessoas também sofrem as mesmas angústias, questionam as mesmas coisas, têm os mesmos medos.
E, vamos combinar?, no mundo em que vivemos hoje, ser soropositivo num país como o Brasil ou em qualquer outro lugar onde haja acesso a tratamento para controlar o hiv, não é o pior que pode acontecer. Imagino a dor dos que sofrem as mazelas da aids em África, por exemplo, onde já há tão pouco para aplacar tanta miséria material e humana, tanta fome, tanta sede, tanta violência... e para piorar, a aids!
E a ironia disso tudo: uma doença que se transmite pelo contágio íntimo... o que deveria ser fonte de prazer e expressão de amor passa a ser a causa de tanto medo e tanta dor. O que deveria edificar as relações e firmar os laços entre as pessoas, pode ter o efeito oposto.
Com o hiv eu aprendi a me amar e me respeitar. É fácil sim seduzir e sair com alguém sem nenhum compromisso. É fácil enganar a baixa auto-estima com conquistas baratas e satisfação efêmera. O difícil é construir relacionamentos baseados na confiança, no amor sincero, na admiração mútua e na entrega.
E este é o grande desafio agora: para ter um relacionamento, o grau de confiança, sinceridade e do respeito deverá ser muito maior. Pelo menos é como sinto agora.

terça-feira, 22 de abril de 2008

susto

Semana passada fui a um dermatologista. Nada de sério, queria aproveitar o fim do verão e usar uns ácidos e cremes para renovar a cútis. Na anamnese, ele me perguntou se eu tinha alguma doença e falei que sou soropositivo há quase 2 anos e "não, não tomo medicamentos". Ele ainda pareceu surpresö: "pensei que começassem os anti-retrovirais logo no início". Ele me examinou dos pés à cabeça, literalmente. Nada com que se preocupar, mas... "Há uns pontos de lipodistrofia aqui", disse apontando perto da maçã do rosto, "nada com que se preocupar, é normal em paciente hiv+". Falou que tem vários pacientes hiv+, perguntei sobre a aplicação de ácido polilático, ele falou de sua experiência com esse preenchimento, blá blá blá... Vi em suas anotações assim: "Lipodistrofia (hiv?)"

Foi um choque de realidade. A relidade de ser soropositivo ali, no diagnóstico dos efeitos do hiv na minha pele. Eu já havia lido algo a respeito e fiquei muito impactado. Saí do prédio onde fica o consultório segurando o choro, coloquei os óculos escuros e peguei o carro no estacionamento. Aí, já chorava copiosamente. "Ele já está causando seus estragos", pensei. Tentei ligar para um amigo médico e nada. Insisti. Nada. Lá pras tantas, mandei uma mensagem de texto. Pedi que me ligasse. Ele me ligou algum tempo depois. Eu estava almoçando. Discretamente falei que "fui a um dermatologista e ele falou que tenho pontos de lipodistrofia no rosto". "Como ele disse isso? Você não toma anti-retrovirais!! Por que você foi ao dermatologista?" Fez um escândalo. Gritou do outro lado e falou que ia conversar com especialistas a respeito, pois desconhecia essa ação do hiv na pele.

Mais tarde me ligou novamente e falou que não procedia tal diagnóstico, que eu não deveria ter falado nada de meu status sorológico... "Mas ele me perguntou se eu tinha alguma doença, eu vou mentir para um médico?" "Você não é obrigado a falar se não for fazer nenhum procedimento invasivo! Ele aproveitou o que você disse para vender o peixe dele e fazer preenchimento no seu rosto! Não se vê lipodistrofia com uma lupa e não se diagnostica sem levar em consideração o resto do corpo blá blá blá..."

Bom, fiquei mais tranquilo no resto do dia, mas de noite conversamos mais. Parece que não há um consenso. Cheguei a ver uma estatística, acho que em torno de 9% dos hiv+ podem ter alguma lipodistrofia facial sem tomar os anti-retrovirais. Mas o pior de tudo foi o médico falar sem ter certeza, sem levar em consideração o impacto de sua afirmação sobre o paciente -- EU!

Deu uma balançada boa. Fiquei atordoado com a notícia de que o bichinho já está fazendo estragos -- e o pior, aparentes! Como teria que viajar a trabalho no dia seguinte, resolvi deixar o assunto na geladeira. A viagem nem me permitiu pensar de novo nisso e, quando voltei, resolvi jogar fora as receitas dos cremes milagrosos do Dr. que me custariam a bagatela de R$ 500,00.

==============================

Antes de viajar, tentei falar com o camarada com quem eu me encontrei umas duas vezes. Ele não atendeu o celular e ainda o vi online no site de relacionamento mas offline no messenger. Saquei tudo. Mas mesmo assim mandei um sms. Nada de resposta. Enquanto estava lá, o vi online no site de relacionamento e mandei um email perguntando se ele havia esquecido de mim ou o quê. A resposta foi aquele velho papo: "gostei de te conhecer mas não me empolguei para um relacionamento sério". Como assim? "Mas quem falou em relacionamento sério?" respondi.

Esse povo tem cada uma. Não pensava em relacionamento sério com ele. Saquei que não teria nada a ver, ok. Nem por isso deixaria de falar com ele ou até mesmo encontrá-lo eventualmente para algo "não-sério".

Fala sério!

domingo, 13 de abril de 2008

aula de etiqueta

Nesse blog, encontrei um guia de como se comportar diante de portadores do hiv/aids. Achei interessante a abordagem sem rodeios da autora, explorando aspectos objetivos e subjetivos da questão.

Foi fácil me identificar com o comportamento a ser evitado e como a autora descreve as reações naturais de alguém que encontra uma pessoa hiv+. Lembro como sempre achei difícil saber o que fazer e falar diante de pessoas com hiv, câncer ou outra doença crônica grave. A cerimônia, a abordagem excessivamente cuidadosa e atenciosa, as "luvas de veludo", o comportamento medido e artificial... Isso tudo afasta mais do que aproxima, discrimina mais do que acolhe. Mas muitas vezes, é nosso reflexo natural diante do novo, do desconhecido, do que nos dá medo.

A autora fala que conhecer alguém hiv+ é uma forma de humanizar doença e ver além das estatísticas, manchetes de jornais e grupos de risco. A aids é uma doença que assusta e muitas pessoas se assustam diante de um portador da doença, identificando o mal com aquele que sofre dele.

Ela ressalta a importância de se educar sobre o assunto, tanto para entender a diferença entre ser hiv+ e ter aids, como para perceber que é um problema que não está tão distante -- logo, pode atingir qualquer um e exige cuidado e prevenção sempre. Afinal, não é uma doença restrita a guetos específicos, o hiv rompeu as barreiras de gênero, raça, classe e orientação sexual.
Outro ponto interessante é a maneira de se referir aos portadores do hiv e doentes de aids como "vítimas" da doença, como se não houvesse esperança diante de seu problema. Assim como o termo "vítima inocente", usado na década de oitenta para as pessoas que contraíram o hiv através de transfusões de sangue, por exemplo, em contraste com os que se comportaram inadequadamente e acabaram se infectando -- os não-inocentes / culpados?

Vale dar uma olhada e refletir não apenas sobre o hiv em si, mas também sobre respeito, dignidade e humanidade.

faça o que eu digo

  • pare de fumar
  • beba menos álcool
  • tome vitaminas e suplementos alimentares
  • faça pequenas refeições a cada 3 horas
  • corte doces e alimentos gordurosos
  • beba pelo menos 3 litros de água por dia
  • faça exercícios
  • durma pelo menos 8 horas por dia
  • não fique horas na frente da tv ou internet
  • leia pelo menos 15 páginas de um bom livro por dia
  • ande ao ar livre, em contato com a natureza, pelo menos nos fins de semana
  • cultive e mantenha amizades
  • mantenha contato com a família
  • tenha um relacionamento afetivo saudável, de cumplicidade e companheirismo

sexta-feira, 11 de abril de 2008

blue friday

Hoje trabalhei como um louco, enfrentando o trânsito caótico dessa cidade debaixo de um sol de foder com os miolos. Nas idas e vindas, um sentimento hora e vez tomava conta de mim. Uma saudade. Pensei no ex. Pensei no outro ex. Imaginei como eles estariam hoje. Imaginei como seria se eu estivesse com eles hoje. Imaginei como a vida é bacana quando estamos com alguém que amamos e somos correspondidos. Bateu saudade de momentos, das peculiaridades de cada um, do jeito de um falar ou do outro fazer palhaçada... Imaginei se terei isso novamente. Imaginei como seria voltar com algum deles. E aquela dúvida: será que fulano me aceitaria hiv+? A vida a dois deve ser bem mais fácil quando ambos são hiv-... ou hiv+.
Sinto que um deles já está way over me, totalmente ultrapassou qualquer saudade ou resquício de afeto. Isso doeu... E sei que o outro ainda pensa e sofre por mim... Mas não acredito na viabilidade daquela relação... Isso também dói.
Olhar pro passado às sextas-feiras está virando um ritual. Um Shabbat torto. A carga de trabalho da semana vai aos poucos aliviando para o fim de semana vir com toda força. Mas também um aperto no coração diante da perspectiva de não compartilhar momentos, descobrir novos lugares, não fazer nada...
Sei que não são saudades exatamente de pessoas, mas de experiências, de um estado... Essas referências são muito presentes na minha vida. E tocam fundo no medo de permanecerem as únicas...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

hiv no mundo

Estou me envolvendo cada vez mais com o propósito de atuar pela causa do hiv/aids. Tenho lido coisas interessantes e muito da experiência pessoal de outros hiv+ mundo afora -- acrescentei novos links na listinha ao lado. Além dos blogs de brasileiros e gringos que sempre leio, destaco alguns que mostram o que anda rolando por aí de campanhas etc. Há muito sendo feito -- e muito mais a fazer. Espero poder contribuir para que o hiv deixe de ser a causa de tanto sofrimento e preconceito.

The International Carnival of Pozitivities
Fórum internacional para soropositivos, pessoas que convivam com soropositivos ou envolvidas na luta contra a pandemia de hiv/aids. São textos, poesias, depoimentos, músicas e vídeos enviados por pessoas do mundo todo. Cada edição é hospedada num servidor diferente, percorrendo todos os continentes. Fui convidado pelo Ron (2sides2ron), idealizador do carnaval, para colocar um dos meus posts na próxima edição. :-)

Hope's Voice International
Organização que busca educar os jovens na prevenção do hiv/aids, usando outros jovens para catalizar a mudança de comportamento e percepção em relação à doença. Como muitos outros movimentos, há um reconhecimento de que os jovens estão no centro da crise e devem ser o centro da solução, pela prevenção e pela luta contra os preconceitos.

Does HIV look like me?
Campanha criada pela Hope's Voice International para combater o preconceito e os estigmas da doença, tendo como embaixadores jovens hiv+ de 15 a 29 anos, para educar o público sobre a doença e lhes mostrar que não estão sozinhos.

What if it were you?
Concurso de posteres para inspirar os jovens a desenvolver e expressar uma percepção mais inclusiva do hiv/aids e promover a prevenção e compaixão, além de erradicar a ignorância e a apatia dos jovens em relação ao assunto. O objetivo maior é eliminar os estigmas da doença e conscientizar os jovens sobre os riscos de infecção pelo hiv.

One Tough Pirate
Bob Bowers, Da Pirate, é um sobrevivente: há 24 anos hiv+, é casado há 7 com Shawn (ela é hiv-). Ele é o presidente e fundador do

HIVictorious
Um belo trabalho de conscientização sobre métodos de prevenção e contra o preconceito e estigmas da doença. Seu lema: "Compassion is our cure".

POZIAM
Robert Breining tem 28 anos e vem fazendo um trabalho para elevar a consciência a respeito do hiv e aids a partir de sua experiência pessoal. Seu site e seu blog são imperdíveis. E ele é um fofo.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Sempre quis que ele soubesse. Queria que ele entendesse muitas coisas. Como contar algo assim a alguém que não está tão perto e que, quando está perto, é para momentos de muita alegria?
Conhecemo-nos há pouco menos de 3 anos e sempre tivemos uma sintonia muito grande. Nossa relação sempre foi especial, mas nunca estive disponível, pois sempre estive muito ligado a outra pessoa. Apesar de haver uma coisa muito forte entre nós, sempre mantive a distância física.
Recentemente, já solteiro, ensaiei uma aproximação mais física. Mas em seguida, dei um passo atrás. Não conseguiria dar mais um passo. Não me sentia pronto e não faria nada de forma superficial. Além disso, não poderia fazer mais nada sem que ele soubesse de meu status.
Outro dia, estávamos conversando no messenger. Ele me falava de seus sentimentos por mim e como eu me comporto em relação a ele. "não sei o q se passa mas acho que o problema é meu mesmo", disse ele. Perguntei se estava com tempo e mandei o endereço deste blog para ele ler. Meu coração pulava dentro do peito desesperadamente. Levantei para tomar água. Voltei. Um breve tempo de silêncio.
"e aí? fico mais fodido com vc se de fato for isso e vc nunca me ter falado" foi o que ele disse. E me perguntou se alguma vez eu lhe perguntei o quanto ele me ama. Cobrou-me por não ter falado antes. Pedi que não me julgasse e falei que se fosse fácil estampava numa camiseta. Bom, isso tudo já aos prantos. Ele me ligou e conversamos. Estava chocado; eu, aliviado e me sentindo exposto. Falamos coisas que nem me lembro agora. Ele foi acolhedor, carinhoso.
Desligamos e ele voltou ao messenger. Falou que tinha lido os posts desse blog. Que ficaria calado para que eu falasse tudo que eu quisesse falar a um amigo. Pedi que guardasse segredo. Sim, segredo. Preocupação desnecessária, ele jamais cometeria qualquer indiscrição. Mas tenho medo de me expor sim, de ser estigmatizado, de ser segregado. Ele falou que nem precisava ter pedido isso. Falamos mais sobre o passado, ele falou que muita coisa passou a fazer sentido para ele. E terminou dizendo "quero saber sempre tudo de você, em primeiro lugar".
Foi uma catarse. Foi libertador. Pergunto-me por que levei tanto tempo para confiar no amor. Amigos se amam. Amigos se aceitam. Amigos se apóiam. Obrigado, meu amigo.


nota: Dame Elizabeth Taylor levantou meio bilhão
de dólares
para a luta contra a AIDS

domingo, 6 de abril de 2008

apenas "bons" amigos

Aconteceu algo curioso no site de relacionamentos. Normalmente, não costumo dar muita bola para mensagens enviadas por hiv-. Mas um camarada me mandou uma mensagem demonstrando interesse coisa e tal. E eu respondi algo como "releia meu perfil com atenção e veja se sou realmente uma pessoa com quem você se relacionaria".
A resposta foi ótima: "ok... realmente não rola... mas se quiser podemos ser amigos."
Em primeiro lugar: nem posso dizer o que eu faria se estivesse na posição dele. Infelizmente estou no lado de cá, mas não posso julgá-lo por sua atitude, por mais que me doa e me revolte.
Em segundo lugar: "podemos ser amigos" de cu é rola. Bela maneira de se começar uma linda amizade. Se fosse: "quero te conhecer, o que vai rolar a partir de um encontro é sempre um mistério" é uma coisa. Até porque "realmente não rola" o quê? O que rolaria? Toda aproximação acontece a partir de algum interesse. E se não há "este" interesse, qual outro haveria? Além disso, meus amigos, amigo não se pinça virtualmente em meio a uma multidão de anônimos virtuais. Amigo entra na sua vida pela porta da frente e fica. Como posso querer ser amigo de alguém nesse contexto? "Ah, claro! Vamos ser amigos! Melhores amigos de infância!" Não tenho um amigo que não tenha ficado na minha vida por afinidade, afeto ou circunstâncias que muito favorecessem. Um contato muito rápido e indireto na impessoalidade virtual da internet não tem nada que favoreça uma amizade.
Passo.

sábado, 5 de abril de 2008

hiv e culpa

Tentações de Santo Antão, Hieronymus Bosch


No universo de gays soropositivos, tenho encontrado representantes de 3 grandes grupos: pessoas que se contaminaram em relações monogâmicas, ou seja, o parceiro pulou a cerca e trouxe o hiv para dentro de casa; outras aprontaram para valer e acabaram se expondo demais; há pessoas que nem aprontavam tanto, mas por um acidente ou uma negligência isolada acabaram se contaminando.
No site de relacionamentos, a apresentação de cada perfil hiv+ define claramente a postura de cada um ali, independente de como tenham se contaminado. Há pessoas que assumem o status sorológico e anunciam o desejo de manter relações com múltiplos parceiros sem preservativos, mostrando um forte aspecto de devassidão e promiscuidade (barebackers); pessoas que estão ali para amizades, sexo e/ou relacionamento; e pessoas que repudiam o sexo casual e/ou fora do contexto de um relacionamento, desejando apenas encontrar alguém para algo "sério".
No primeiro caso, nem posso ser leviano ao ponto de afirmar que sejam bug chasers ou que sejam pessoas promíscuas desde sempre e a infecção não alterou seu comportamento.
Os que adotam a segunda postura predominam, mas um discurso mais superficial pode estar mascarando sentimentos de culpa e revolta.
A terceira postura pode ser de pessoas que sempre foram mais conservadoras OU são simplesmente os ARREPENDIDOS.
Independente do grupo ou da postura, há dois pensamentos muito comuns: desejo de ter um relacionamento sério e percepção de que o hiv seja um castigo ou lição da vida (este predomina mais no terceiro grupo, no caso dos arrependidos), através de um discurso que pode ser resumido da seguinte forma: "já aprendi uma grande lição, não posso cometer o mesmo erro". Aliás, essa frase foi tirada de um perfil de um site de encontros.
Obviamente, há um grande peso de religiosidade nesse tipo de pensamento. E muitos "escolhem" não mais praticar sexo casual porque já aprenderam uma grande lição e agora querem um relacionamento sério, inspirando-se nos modelos tradicionais de relações e comportamento -- como se esse fosse o "correto" e que se tivessem agido assim desde sempre não teriam se contaminado,
Como eu já conheci pessoas que tinham culpa pelo próprio prazer (esses normalmente tomam banho correndo depois da transa), imagina o cara viver culpado por ser homossexual, praticar sexo homossexual e ainda se contaminar com o hiv!! Nem precisa frequentar uma igreja ou templo para concluir que o hiv é um castigo por má conduta.
Nem vou dizer que isso nunca passou pela minha cabeça. A gente se arrepende e se culpa, é claro, mas também pode assumir a responsabilidade sem precisar levar o hiv como uma punição divina pelos pecados cometidos. No meu caso, não me contaminei num momento de numerosas aventuras, pelo contrário, estava um tanto sossegado na época. Já havia feito coisas piores? Sim, com certeza. Mas mesmo não tendo acontecido numa onda de promiscuidade inconsequente, sei que poderia não ter acontecido. Mas aconteceu! E não foi a determinação de um deus severo que me colocou nessa.
Um estudo realizado por médicos da Universidade de Yale demonstrou que os pacientes terminais que discutiram com seus médicos sobre o agravamento da doença e medidas para recuperação expressaram:17% vontade de viver; 44% culpa pela infecção pelo hiv; 32% medo da morte; e 26% a doença é uma forma de punição
Este estudo tinha como objetivo informar aos médicos a importância de levar em consideração o grau de religiosidade de seus pacientes terminais. Os que tinham deus como uma figura benevolente e acolhedora eram mais abertos para convsersar sobre medidas a serem tomadas nas crises finais; acreditar que o hiv é era uma punição dificultava esse tipo de conversa.
Há estudos divergentes entre os efeitos negativos e positivos da religião sobre a saúde. Alguns inclusive indicam que a religiosidade surte maiores efeitos benéficos sobre a saúde de pessoas de baixo nível sócio-cultural. Claro que cada caso é um caso, muita gente pode encontrar na religião uma inspiração para superar traumas e manter uma postura positiva sobre a vida. Mas muitos também podem sucumbir ao peso da culpa e encarar a doença, por exemplo, como um castigo.
O fato de o hiv ter se disseminado inicialmente entre pessoas que praticavam o sexo livre ou compartilhavam seringas para injetar drogas foi um fator determinante para que grupos religiosos pregassem que a aids era um castigo de deus para o comportamento inadequado dos "pecadores". Mas e depois disso, quando o hiv atingiu pessoas "inocentes" ou de "boa conduta" através de transfusões de sangue ou em relações monogâmicas em que o parceiro trouxe o vírus para a intimidade?
Sentir culpa por ter pisado na bola é comum em qualquer área da vida. Mas carregar essa culpa de julgamentos morais e religiosos é outra coisa.
Há alguns grupos cristãos que colocam sob outras perspectiva: que oportunidade se cria com a soroconversão? Qual seria o chamado diante de uma situação dessa? São questões interessantes diante de qualquer que seja o problema / causa de sofrimento...
Uma coisa é certa: manter propósitos edificantes na vida é um fator que contribui para a qualidade de vida de qualquer pessoa. Assim como estar em contato consigo mesmo para fazer boas escolhas no que diz respeito a trabalho e relacionamentos.
O hiv muda a vida de qualquer pessoa. Cabe a cada um decidir o que fará com essa realidade.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Melhor ser surdo...

Hoje no táxi o assunto foi sobre a morte da menina que caiu ou foi jogada da janela em São Paulo, crueldade contra uma criança inocente etc. Daí, o motorista emendou na história de um concunhado que foi condenado por estuprar a irmã deficiente mental de uma cunhada e toda a violência sexual que ele, o estuprador, sofreu na cadeia. Daí, contou a história de um cara que pesava 150 quilos e agora está totalmente consumido pela aids, além de outras sequelas que ele detalhou morbidamente. A mulher do cara já morreu e o filho de 4 anos também. Quando ele ia emendar numa outra história semelhante, eu interrompi fazendo uma ligação do celular para não ter que ouvir mais nada.
Dá para imaginar como fiquei com esse papo.
Entrei num restaurante para almoçar e comi quase 1 quilo de comida. Cheguei em casa e tomei mais uma dose de minhas vitaminas.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Um sonho

Logo após meu diagnóstico, eu tive um sonho, um dos mais incríveis da minha vida:

O cenário era algo meio futurista decadente neo noir / blade runner. Era um edifício desses enooormes, como o minhocão da auto-estrada Lagoa-Barra, que se estendia por uma grande área. Dentro do edifício, cada andar era uma pequena cidade, com transporte público (tipo um trenzinho ou bonde) circulando pelos corredores sujos, úmidos e escuros.

Eu estava acompanhado. Eram pessoas familiares, mas ninguém que eu conhecesse na vida real. Entramos num dos apartamentos. Era um ambiente muito agradável, como casa de artista plástico, com cores fortes, uma luz linda entrando pelo janelão, uma atmosfera muito positiva. Nesta sala, me entregaram uma criança. Um menino. Tinha o tamanho de um neném de mais de 6 meses, mas tinha todo aquele aspecto de recém-nascido, a pele avermelhada, a cara amassada. E me falaram: este é o seu filho. Meu espanto por conhecer meu filho, já com 6 meses, foi enorme, mas a alegria de abraçar aquela criaturinha junto ao meu corpo -- eu lembro que o coloquei no meu ombro como se faz quando a criança tem que arrotar e encostava meu rosto na altura de sua cinturinha... Foi uma felicidade incrível que só de lembrar eu sinto meu corpo todo vibrando. Lembro de ter pego o telefone e ligado para a minha mãe com a voz embargada: "mãe, o que você diria se eu te dissesse que você tem um neto e que ele já está com 6 meses?" perguntei com orgulho. Freud é de foder.

Acordei pela manhã com uma vibração por todo o corpo, como se todas as minhas células se agitassem de tanta felicidade e fiquei neste estado durante todo o dia.


Tentei interpretar esse sonho. Compartilhei com algumas amigas, mas elas não sabiam de meu diagnóstico então nem poderiam contribuir tanto. Lembro que tirei algumas conclusões na época, mas o mais importante foi a experiência e a memória do sonho e das emoções que afloraram. Como num contexto de tanto medo, tanta dor, tantas incertezas, um sonho me permitiu experimentar uma alegria que, acordado, nunca vivi algo comparável?