quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vida +

Recentemente, numa conversa com um amigo, ele me falava como estava cansado das panelinhas gays do Rio de Janeiro, especificamente Ipanema. Ele vinha saindo com um grupo e cansou da mesmice, da frivolidade etc. É claro que nunca podemos generalizar, mas é um fato que a turminha que malha desesperadamente para desfilar nas boates sem camisa e cheia de ecstasy na cabeça não vai muito além disso num bate-papo...
Para ele, a gota d' água foi um dia, na praia (Farme), um grupo de «amigos» olhou para um cara que estava um pouco mais afastado, sozinho, tomando sol, e um deles disse "vamos lá dar uma atençãozinha a ele, ele está com o hiv..." mas num tom mais venenoso do que realmente solidário. Esse amigo não sabe do meu status, me contou isso sem qualquer intenção, simplesmente queria expressar seu desagrado com as panelinhas das bibas de Ipanema.

Apesar de não estar presente, pude ver como se tivesse testemunhado tudo. Esse tom venenoso que ele sentiu me é tão familiar, apesar de eu fugir de lugares gays e de frequentar casas de amigos onde só vão as "irmãs"...

Vale lembrar que a mentalidade que estigmatiza e discrimina é a mesma que impede que as pessoas façam o teste e procurem tratamento.
Não sei como é no resto do mundo, nem como as pessoas lidam com isso por aí, mas eu realmente gostaria de evitar passar por isso -- ser estigmatizado e isolado socialmente por ser hiv+. Pode ser uma neura minha, falta de auto-estima, enfim, pode ser um equívoco de minha parte, mas não gostaria de me ver exposto desta forma. Já não me enquadro muito nos padrões desta turma: não frequento os mesmos lugares, não uso os modelitos que todos usam para cada ocasião, não sigo os modismos da tribo... e não tenho o corpo saradíssimo nem tomo bala quando saio para me divertir.

Aliás, não sei se todos hiv+ sentem isso, mas eu muitas vezes penso sobre meu corpo, sobre perder ou ganhar peso. Gostaria de emagrecer, ganhar uma massa muscular bla bla bla, mas fico muito dividido entre perder peso e manter um aspecto «saudável», por mais que seja um paradigma contestado pela medicina (a velha história do bebê fofinho...). Como eu ganho e perco peso com uma certa facilidade, fico muito entre o sim e o não na hora de definir minha dieta e escolher entre perder peso ou manter uns quilinhos a mais. Sim, eu sei, é medo dos estigmas da doença bla bla bla, mas estou trabalhando isso e pretendo ver um endocrinologista para equilibrar tudo e ter um corpo saudável mesmo.

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Continuo com meus projetos, dedicado a cultivar novos hábitos, atividades mais saudáveis etc.

Logo conto mais novidades a respeito.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Winds of change


Num post recente falei que faria novas escolhas e mudaria (aos poucos) minha maneira de encarar as coisas e da minha obrigação de buscar a felicidade. E já comecei, fazendo escolhas que estão surpreendendo as pessoas à minha volta e a mim mesmo. Resolvi aprender um esporte radical, uma decisão que abrange alguns pontos importantes no meu momento de vida: uma atividade ao ar livre que não depende de companhia (namorado, amigos etc.) e me coloca em contato com a natureza, me tirando de casa e de São Paulo de vez em quando; uma atividade física nova que me estimulará a melhorar minha alimentação e meu condicionamento físico; um sonho antigo que desejava realizar mas considerava difícil demais para ser feito na minha idade -- resolvi topar o desafio e colocar minha mente e meu corpo focados neste objetivo.
Nem preciso dizer que em duas semanas muita coisa já mudou: preciso me exercitar diariamente para preparar meu corpo para este novo desafio, já faço planos de curto prazo (viagens aos fins de semana) e já mudei meus planos de médio prazo (férias em locais onde eu possa aprender mais e praticar o esporte e ainda incluir curso de língua no pacote!).
Ainda estou dando os primeiros passos portanto quero manter um ritmo lento e constante para não se tornar um episódio de fogo de palha. Como estou saindo de um quadro depressivo moderado, está sendo ótimo ver como meu humor e meu corpo estão reagindo.
Delícia mesmo foi voltar de um fim de semana onde fiz umas aulas e acabei machucando o dedão do pé e a canela... pode soar doido para quem está de fora, mas uma contusãozinha por causa de uma atividade apaixonante é uma coisa maravilhosa para quem está acostumado a ter dores no pescoço e na coluna por causa do trabalho...
Aguardem mais notícias a respeito!


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Ocorreu algo curioso. Na viagem de ida, eu e uma amiga conversávamos sobre mil assuntos e falei de minha experiência com xamanismo e que uma vez tive um contato interessante com uma coruja, que surgiu do nada e me guiou por uma estrada de terra à noite.
Na véspera de virmos embora, estávamos na piscina do hotel vendo o pôr do sol quando surgiram duas corujas, que ficaram próximas de nós. Já fiquei ligado. Saímos para jantar e na volta, vi pela janela do quarto, que as duas corujas haviam se postado no telhado bem em frente ao nosso quarto. Ao acordar para virmos embora, as duas corujas continuavam ali, de plantão. Fiquei na varanda uns minutos para fumar um cigarro (dispenso censura antitabagista) e uma delas ficou olhando fixamente para mim. Minha amiga ficou impressionada por estar um sol forte e a coruja ali, tranquilamente olhando para nós.

To be continued...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

domingo, 3 de agosto de 2008

Roots

Minha mãe está de visita por uns dias. Fomos à exposição da Bossa Nova no Ibirapuera, uma experiência incrível quando estamos com alguém que viveu parte daquela época.
Numa parte da exposição que mostrava o contexto histórico da década de 40 em diante, quando fiquei impactado com a força daqueles tempos, a efervescência cultural, política, econômica, comportamental...
Minha mãe testemunhou a luta pela liberdade, a opressão militar que torturava e matava seus amigos, os sonhos de uma geração que desejava viver em paz e amar, criando um mundo melhor e mais justo.
Nasci neste contexto. Mesmo com toda a dureza com que o mundo se apresentava, mesmo com toda a violência exercida pelos fortes sobre os mais fracos, mesmo agravando os problemas políticos e sociais com um sistema cada vez mais injusto, meus pais sonhavam com um mundo melhor e acreditavam nesse sonho. E um filho seria uma semente para as transformações desejadas. Eu sou filho da esperança.
Como boa parte da minha infância foi vivida durante a guerra fria, me lembro bem dos programas de tevê que aterrorizavam a todos com a possibilidade de uma crise nuclear, de um tal botão vermelho em Washington que poderia deflagrar o conflito final entre as duas grandes potências mundiais. Hoje, só de ouvir a música do Globo Repórter, fico arrepiado. A voz de Sergio Chapelin anunciando doenças incuráveis (i.e., aids), a iminência de uma hecatombe mundial, a possibilidade de um inverno nuclear causado pela bomba, por cometas ou meteoros... Perdi noites de sono e sofria com a perspectiva de um mundo sentenciado a um destino apocalíptico. Mas meus pais acreditavam.
Nunca fui muito otimista com relação ao mundo, ao futuro... sempre disse que não teria coragem de colocar um filho neste mundo para sofrer o agravamento de tudo que eu vinha testemunhando, o aumento da violência nos centros urbanos, a crise ambiental, a falta de fé nos políticos e nas transformações sociais.
E neste contexto, contraí o hiv. Desde minha soroconversão, tenho questionado tudo que diga respeito a planos de longo prazo, relacionamentos, a construção de um futuro... como se não precisasse nem ter esperança de que algo melhor está por vir, basta viver cada momento e seguir adiante com a vida. Tornei-me um ser possuído por um pragmatismo cínico, o mundo perdeu seu colorido romântico que já tive um dia.
Mas hoje vejo que isso é mais que um equívoco, é uma traição ao amor e à esperança dos dois jovens que me colocaram nesse mundo na certeza de que o ser humano é capaz de transformá-lo, de torná-lo melhor. Devo agradecer pela fé que foi depositada em mim mas tenho que, no mínimo, nutrir sentimentos e pensamentos esperançosos -- e por que não poéticos, românticos...?
Portanto, a partir de agora comprometo-me a buscar diariamente pensamentos mais positivos para desenvolver uma percepção mais otimista da vida. Não poderá ser uma guinada brusca, pois seria artificial. Nem poderei me iludir numa vibe Poliana, pois nem seria compatível com meu intelecto e minha experiência de vida. Mas posso sim, e sei que posso sempre, referir-me a algo superior, um desejo de completude vertical e horizontal, para tirar os pés desse pântano de pessimismo, sentimentos de vítimização e de culpa...
Se a história traz o testemunho de infinitos milagres, a própria vida é um deles mas há tantos outros que mostram a capacidade de superação e realização de indivíduos e povos, posso me alinhar com aqueles que acreditaram e venceram.
Aguardem-me!