terça-feira, 1 de abril de 2008

Um sonho

Logo após meu diagnóstico, eu tive um sonho, um dos mais incríveis da minha vida:

O cenário era algo meio futurista decadente neo noir / blade runner. Era um edifício desses enooormes, como o minhocão da auto-estrada Lagoa-Barra, que se estendia por uma grande área. Dentro do edifício, cada andar era uma pequena cidade, com transporte público (tipo um trenzinho ou bonde) circulando pelos corredores sujos, úmidos e escuros.

Eu estava acompanhado. Eram pessoas familiares, mas ninguém que eu conhecesse na vida real. Entramos num dos apartamentos. Era um ambiente muito agradável, como casa de artista plástico, com cores fortes, uma luz linda entrando pelo janelão, uma atmosfera muito positiva. Nesta sala, me entregaram uma criança. Um menino. Tinha o tamanho de um neném de mais de 6 meses, mas tinha todo aquele aspecto de recém-nascido, a pele avermelhada, a cara amassada. E me falaram: este é o seu filho. Meu espanto por conhecer meu filho, já com 6 meses, foi enorme, mas a alegria de abraçar aquela criaturinha junto ao meu corpo -- eu lembro que o coloquei no meu ombro como se faz quando a criança tem que arrotar e encostava meu rosto na altura de sua cinturinha... Foi uma felicidade incrível que só de lembrar eu sinto meu corpo todo vibrando. Lembro de ter pego o telefone e ligado para a minha mãe com a voz embargada: "mãe, o que você diria se eu te dissesse que você tem um neto e que ele já está com 6 meses?" perguntei com orgulho. Freud é de foder.

Acordei pela manhã com uma vibração por todo o corpo, como se todas as minhas células se agitassem de tanta felicidade e fiquei neste estado durante todo o dia.


Tentei interpretar esse sonho. Compartilhei com algumas amigas, mas elas não sabiam de meu diagnóstico então nem poderiam contribuir tanto. Lembro que tirei algumas conclusões na época, mas o mais importante foi a experiência e a memória do sonho e das emoções que afloraram. Como num contexto de tanto medo, tanta dor, tantas incertezas, um sonho me permitiu experimentar uma alegria que, acordado, nunca vivi algo comparável?

Nenhum comentário: