Tenho um amigo que nunca fez o exame anti-hiv. Ele se recusa a fazer, prefere não saber. A primeira vez que eu saí com um cara, a camisinha estourou e eu fiquei em pânico. Liguei para ele perguntando se ele havia feito ou se faria o exame. Ele disse que nunca havia feito e não pensava em fazê-lo.
O medo de saber é grande. Todos sabem o quanto se expuseram e quantos riscos correm a cada relação que não seja 100% protegida -- e quase ninguém tem relações 100% protegidas, do início ao fim (conheci poucas pessoas que faziam sexo oral com preservativo).
Mas fazer o exame é essencial. Eu fazia todos os anos, 2 vezes ao ano. Poucas vezes tive medo do resultado. Quando saiu positivo pela primeira vez, eu não esperava e não quis acreditar. Fui surpreendido e neguei até onde pude. Pesquisei todos os sites negacionistas e procurei uma saída para aquela situação. Pensei em me matar, pensei em fazer 1000 besteiras.
Um ano e meio depois, não posso dizer que seja fácil conviver com essa realidade. Nem vou dizer que estou tranquilo e que minha vida não mudou em nada por causa do hiv. Mas posso afirmar: é melhor saber do que ficar na ignorância, para se proteger e para proteger a quem se ama.
Para aqueles que tiveram o diagnóstico recentemente, posso dizer o seguinte: não é o fim do mundo. Muitas coisas mudam, com certeza, mas não é o fim do caminho. Há muitas maneiras de se lidar com o hiv que não necessariamente nos colocam a cabeça numa guilhotina. Há vida após o diagnóstico do hiv!
Mudei muito minha maneira de ver a vida e, principalmente, o futuro. Já fui muito pouco prudente e inconsequente nas minhas relações e na minha maneira de lidar com a minha vida. Hoje sou um pouco mais criterioso: não posso expor ninguém sem que ele saiba de meu status, não posso me expor demais, não posso me dar ao luxo de seduzir e me envolver com qualquer um... Não faço planos de longo prazo, mas nunca fiz. Sempre fui meio incrédulo com relação ao futuro (meu e da humanidade). Mas ainda tenho alguns sonhos e aspirações que pretendo realizar: viagens, experiências, conquistas...
Ter encontrado (mesmo que virtualmente) algumas pessoas que vivem com este mesmo problema tem me ajudado a lidar com isso tudo. Ler sobre a experiência alheia sempre ajuda. Os relatos podem ser inspiradores, assim como também podem ser um balde de água fria. Mas sempre é bom saber que não estamos sozinhos. Outras pessoas também sofrem as mesmas angústias, questionam as mesmas coisas, têm os mesmos medos.
E, vamos combinar?, no mundo em que vivemos hoje, ser soropositivo num país como o Brasil ou em qualquer outro lugar onde haja acesso a tratamento para controlar o hiv, não é o pior que pode acontecer. Imagino a dor dos que sofrem as mazelas da aids em África, por exemplo, onde já há tão pouco para aplacar tanta miséria material e humana, tanta fome, tanta sede, tanta violência... e para piorar, a aids!
E a ironia disso tudo: uma doença que se transmite pelo contágio íntimo... o que deveria ser fonte de prazer e expressão de amor passa a ser a causa de tanto medo e tanta dor. O que deveria edificar as relações e firmar os laços entre as pessoas, pode ter o efeito oposto.
Com o hiv eu aprendi a me amar e me respeitar. É fácil sim seduzir e sair com alguém sem nenhum compromisso. É fácil enganar a baixa auto-estima com conquistas baratas e satisfação efêmera. O difícil é construir relacionamentos baseados na confiança, no amor sincero, na admiração mútua e na entrega.
E este é o grande desafio agora: para ter um relacionamento, o grau de confiança, sinceridade e do respeito deverá ser muito maior. Pelo menos é como sinto agora.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
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