segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Crossroads

Depois de conhecer e sair duas vezes com um cara muito especial, me vejo no ponto crítico que muitos hiv+ devem enfrentar: o momento certo de dizer meu status sorológico. Como ainda não tivemos relações, estamos criando a intimidade aos poucos e está tudo fluindo com muita naturalidade. Conversamos muito, vamos explorando um ao outro com cuidado e ternura, experimentando toques, abordando temas provocantes (mas pouco polêmicos) e buscando a via de relacionamento que vá além do sexo e do prazer imediato. Estamos claramente com o desejo e a intenção de formar um vínculo mais sério do que se poderia supor entre duas pessoas que se conheceram na sala de espera de um aeroporto.
Ele confessou que seu relacionamento mais recente foi com um hiv+ e que saiu desta relação com um pouco de depressão, muito envolvido na temática da doença e da morte. Falou isso sem peso nem acusações e ainda ressaltou que a relação deste ex-namorado com seu próprio status sorológico era muito complicado, o que para ele era absolutamente compreensível, ainda que pesado. Soma-se a isso mais dois ou três casos de pessoas próximas na mesma situação, o que detonou nele uma certa paranóia com relação à morte e à finitude. Não perguntei como ou por que o relacionamento terminou e ainda me segurei um pouco mais antes de falar de meu próprio status sorológico.
Hoje deverá ser o dia. Não sei se consigo ir um pouco mais além nesta dança que iniciamos sem que ele saiba com o que está lidando. É a primeira vez que passo por isso, nunca tive que confessar a alguém com quem estivesse iniciando um envolvimento para além do sexo o meu status sorológico -- e sempre tive pânico de ter que enfrentar essa situação. Mas devo confessar que está sendo tudo tão natural e gostoso que mesmo que ele não consiga lidar com isso e esta questão se torne um empecilho à relação que nem começamos ainda, já terá sido de grande valia. É sempre bom conhecer pessoas que valem a pena num mundo em que testemunhamos com frequência a sordidez humana nas relações -- sejam elas amorosas, familiares ou profissionais.
Sinto-me como um menino pré-adolescente experimentando um de seus primeiros amores, com timidez e cuidado me aproximando do outro e sem saber o momento certo de ceder totalmente ao que me chama.

Aguarde as cenas dos próximos capítulos.