domingo, 1 de junho de 2008

Choque de galáxias


Quando eu era pequeno, um pesadelo constante vinha me aterrorizar todas as noites: como vagando pelo espaço, num movimento em espiral, eu ia sumindo no vazio. Aquela sensação vertiginosa de sumir no nada me fazia acordar assustado, com o coração acelerado. E eu tinha 4 ou 5 anos, não mais que isso.

Os conceitos de finitude e infinitude eram assustadores. A idéia de que uma existência muito maior e mais ampla do que meu limitado mundo familiar -- minha casa, meus pais, meu irmão mais velho -- assustava porque incompreensível. Por outro lado, a possibilidade de finitude, o medo de que aquilo que me era familiar e concreto pudesse terminar -- meus pais morrerem e, posteriormente, minha própria morte, o fim da existência, o fim do mundo -- era igualmente incompreensível. O medo da morte.

Vagando pelos canais da tv a cabo, fui parar num programa sobre o futuro de nosso universo, o caminho que percorremos rumo ao trágico fim do choque das galáxias, a morte do Sol e a transformação fatal de todo o universo. Uma perspectiva nada positiva para os próximos bilhões de anos... Há alguns anos, eu teria perdido a noite de sono pensando nesse fim trágico.

Lidar com a finitude -- a morte -- era aterrorizante para um menino que precisava crer na eternidade da vida que mal havia começado a conhecer. E o que viria depois? Além da decomposição do corpo físico, o que haveria do outro lado? Escuridão? Silêncio? Frio?

Como não tive uma formação religiosa (que facilita e simplifica essas questões), consegui encontrar respostas para essas perguntas aos poucos, com uma intensa busca espiritual e filosófica. Com o estímulo de meu irmão, por exemplo, refleti sobre a realidade como algo efêmero e ilusório. Uma noite, antes de dormirmos, já com as luzes apagadas, meu irmão veio com o seguinte papo: "você já pensou que nosso mundo pode ser simplesmente o sonho de alguém? Tudo isso é apenas um sonho de alguém que pode acordar a qualquer momento..." E eu, aos 8 anos, entrei em contato com Maya graças ao meu irmão 4 anos mais velho e que dormiu tranquilamente enquanto eu lutava contra a idéia de que tudo poderia terminar a qualquer momento. Difícil preservar a inocência assim...

Hoje, meu irmão acordou deste "sonho" e vive noutra realidade (ou não?) e já não me angustio da mesma maneira com essa possibilidade tão ameaçadora.

Não há um dia em que eu não me lembre que dentro de mim percorre um vírus que pode abreviar tudo isso -- e esse "sonho" terminar. O que assusta não é a brevidade com que isso pode acontecer, mas o processo doloroso até o fim. Não estou sendo pessimista nem estou acometido por uma negatividade colossal. Aos 5 anos de idade, era preciso acreditar na infinitude da vida; aos 20, buscava a infinitude do momento; hoje, espero aproveitar cada momento com qualidade (não intensidade).

E isso deveria valer para toda e qualquer pessoa: aproveitar com qualidade cada dia, não contando com a quantidade do porvir para gozar o que se espera e deseja. Para mim, é uma atitude que tento manter a todo custo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou passando por algo assim no momento: sentindo que estou chegando ao final de uma longa jornada, mas não por causa de um ínfimo vírus, e sim por ver meus pais envelhecendo, meus irmãos criando agora seus filhos... Por isso, apenas hoje aproveito melhor cada minuto, coisa que deveria ter feito desde o princípio, né? ;) Um forte abraço pra ti... e uma linda noite...