quinta-feira, 8 de maio de 2008

Stephen Fry: HIV & Me

"It feels better without a condom? It feels a lot better having sex without hiv!"

Em seu documentário produzido pela BBC, Stephen Fry mostra a realidade atual do hiv/aids no Reino Unido e no mundo. Além de dados estatísticos sobre o aumento do número de infecções entre heterossexuais e jovens gays (que acreditam que o pior que pode acontecer é terem que tomar um comprimido por dia!!), ele mostra a realidade de quem convive com o vírus há mais de 20 anos, vai à África do Sul ver de perto a política governamental no combate e no tratamento do hiv, revisita Uganda e São Francisco, visita hospitais e conversa com médicos e ativistas sobre acesso a novos medicamentos e campanhas de prevenção.

Entre depoimentos esperançosos, histórias tocantes e muita reflexão sobre o por quê de tantos novos casos a cada ano, o documentário desmistifica a crença de que com os medicamentos o hiv deixou de ser um problema -- mas também mostra como hoje o diagnóstico hiv+ não é mais uma sentença de morte dolorosa e sofrida.

Dentre alguns momentos realmente emocionantes do documentário, fiquei especialmente tocado pelas mães hiv+ de Uganda. Lá, elas fazem um livro de memórias para seus filhos, uma espécie de diário com fotos, mensagens estimulantes, histórias familiares e tudo que elas gostariam que os filhos soubessem já que elas não estarão mais com eles nem os verão crescer. Difícil de acreditar, mas o Memory Book feito por essas mães com tanto carinho e resignação é a forma que elas encontraram de estarem presentes na vida de seus pequenos depois que a aids der cabo de suas próprias vidas. Uma frase que aparece num desses livros diz assim: "você é responsável pela sua vida e pela vida de seu irmão". Vai dormir com esse barulho...

Fry ficou chocado com o preconceito sofrido pelos hiv+ e como os estigmas da doença ainda criam uma barreira de ignorância entre os britânicos (e no resto do mundo também, claro). Uma jovem e linda moça hiv+ fala de sua tristeza por acreditar que viverá o resto de seus dias sozinha (já que nenhum homem terá coragem de topar a parada ao seu lado) -- o que ele chama de "crise social do hiv", agora mais grave do que a "crise médica" já que as enfermarias especializadas deixaram de acumular dezenas de doentes esperando a morte.

Uma senhora hiv+ que diz em suas palestras para adolescentes que a cara do hiv é a "vovozinha sentada ao seu lado no trem", casos milagrosos de crianças que nasceram com o hiv e conseguiram sobreviver até as primeiras terapias anti-retrovirais garantirem uma vida quase normal, histórias trágicas de quem criou resistência aos medicamentos existentes, casais sorodiscordantes e crianças hiv- nascidas de pais ou mães hiv+. A dureza da realidade sempre amenizada com um pouco de esperança.

Fry ainda conclui que as campanhas devem incentivar as pessoas a fazerem o exame anti-hiv (1/3 a 1/2 dos britânicos hiv+ não sabem de sua condição) e enfatizar a importância da prevenção sem reforçar os estigmas da doença. Mais e mais pessoas são infectadas todos os anos e não lhes faltam informação -- apenas consciência.

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