Minha mãe está de visita por uns dias. Fomos à exposição da Bossa Nova no Ibirapuera, uma experiência incrível quando estamos com alguém que viveu parte daquela época.
Numa parte da exposição que mostrava o contexto histórico da década de 40 em diante, quando fiquei impactado com a força daqueles tempos, a efervescência cultural, política, econômica, comportamental...
Minha mãe testemunhou a luta pela liberdade, a opressão militar que torturava e matava seus amigos, os sonhos de uma geração que desejava viver em paz e amar, criando um mundo melhor e mais justo.
Nasci neste contexto. Mesmo com toda a dureza com que o mundo se apresentava, mesmo com toda a violência exercida pelos fortes sobre os mais fracos, mesmo agravando os problemas políticos e sociais com um sistema cada vez mais injusto, meus pais sonhavam com um mundo melhor e acreditavam nesse sonho. E um filho seria uma semente para as transformações desejadas. Eu sou filho da esperança.
Como boa parte da minha infância foi vivida durante a guerra fria, me lembro bem dos programas de tevê que aterrorizavam a todos com a possibilidade de uma crise nuclear, de um tal botão vermelho em Washington que poderia deflagrar o conflito final entre as duas grandes potências mundiais. Hoje, só de ouvir a música do Globo Repórter, fico arrepiado. A voz de Sergio Chapelin anunciando doenças incuráveis (i.e., aids), a iminência de uma hecatombe mundial, a possibilidade de um inverno nuclear causado pela bomba, por cometas ou meteoros... Perdi noites de sono e sofria com a perspectiva de um mundo sentenciado a um destino apocalíptico. Mas meus pais acreditavam.
Nunca fui muito otimista com relação ao mundo, ao futuro... sempre disse que não teria coragem de colocar um filho neste mundo para sofrer o agravamento de tudo que eu vinha testemunhando, o aumento da violência nos centros urbanos, a crise ambiental, a falta de fé nos políticos e nas transformações sociais.
E neste contexto, contraí o hiv. Desde minha soroconversão, tenho questionado tudo que diga respeito a planos de longo prazo, relacionamentos, a construção de um futuro... como se não precisasse nem ter esperança de que algo melhor está por vir, basta viver cada momento e seguir adiante com a vida. Tornei-me um ser possuído por um pragmatismo cínico, o mundo perdeu seu colorido romântico que já tive um dia.
Mas hoje vejo que isso é mais que um equívoco, é uma traição ao amor e à esperança dos dois jovens que me colocaram nesse mundo na certeza de que o ser humano é capaz de transformá-lo, de torná-lo melhor. Devo agradecer pela fé que foi depositada em mim mas tenho que, no mínimo, nutrir sentimentos e pensamentos esperançosos -- e por que não poéticos, românticos...?
Portanto, a partir de agora comprometo-me a buscar diariamente pensamentos mais positivos para desenvolver uma percepção mais otimista da vida. Não poderá ser uma guinada brusca, pois seria artificial. Nem poderei me iludir numa vibe Poliana, pois nem seria compatível com meu intelecto e minha experiência de vida. Mas posso sim, e sei que posso sempre, referir-me a algo superior, um desejo de completude vertical e horizontal, para tirar os pés desse pântano de pessimismo, sentimentos de vítimização e de culpa...
Se a história traz o testemunho de infinitos milagres, a própria vida é um deles mas há tantos outros que mostram a capacidade de superação e realização de indivíduos e povos, posso me alinhar com aqueles que acreditaram e venceram.
Aguardem-me!
domingo, 3 de agosto de 2008
Roots
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