2008 É o ano da XVII Conferência sobre a Aids, a ser realizada no México, com o tema Ação Universal Já. A conferência de 2006 teve como tema Hora de Agir, conclamando a todos para uma ação global mais eficiente em todas as frentes de luta contra o hiv e a aids.
O vídeo abaixo é da conferência de 2006 e foi inspirado na visão do que o hiv/aids serão daqui a 25 anos se essas ações não forem tomadas desde já, fazendo uma projeção utópica de 25 anos no futuro, quando os maiores problemas da humanidade parecem resolvidos (água, educação, o câncer...).
Encontrei este vídeo pelo site da AVERT, que reúne posters, fotos e vídeos sobre hiv/aids. A galeria de posteres mostra como as campanhas evoluíram em muitos aspectos, ampliando o foco de acordo com a evolução da pandemia com mensagens cada vez mais complexas e abrangentes, focalizando problemas específicos como a transmissão vertical, minorias raciais e sociais e direitos humanos em geral. Mas, desde cedo, a conscientização sobre meios de contágio, a importância crucial da prevenção pelo uso de preservativos, a luta contra o preconceito e a desestigmatização dos chamados grupos de risco já estavam presentes nas mensagens de conscientização.
domingo, 27 de abril de 2008
the wall
Hoje fui à Benedito Calixto com uma amiga. E no meio de tanta gente, tantos olhares, tanta paquera, percebi como estou com fobia de conhecer alguém. Qualquer possibilidade, mesmo que remota, de me aproximar de um cara é assombrada pelo pensamento: caralho, sou hiv+ e esse cara não vai querer nada comigo -- nem sério, nem não-sério.
É automático, não tenho controle. Nem adianta tentar usar fórmulas de O Segredo e pensar positivamente porque não rola. E olha que estou falando de troca de olhares, nem um passo além disso eu permito que aconteça. Tudo bem que sempre fui muito tímido e só dava algum passo muito raramente, sempre em tiros certeiros. Mas agora eu nem me permito jogar com a sedução, porque se a coisa avançar para algum contato direto, eu terei medo de me interessar pelo cara. Se eu me interesso por ele e vice-versa, a coisa pode seguir mais adiante e eu vou ter muito medo de falar de meu status e ser rejeitado. Então, porque não evitar logo todo esse aborrecimento e abortar a missão logo de cara?
Um amigo me sugeriu a seguinte estratégia: vou seguindo naturalmente e, num momento oportuno, se for o caso, jogo o assunto sem falar particularmente de mim mesmo para ver a reação do cara. Daí, posso saber se sigo mais adiante ou não... porra, além de me dar preguiça de nadar para morrer na praia, não sei em que ponto teria segurança de me expor. Quando exatamente eu teria a coragem de tocar no assunto? Vou ter que esperar o ponto de não-retorno? Vai parecer que estou cozinhando o cara....
Afora isso, eu já tentei essa estratégia antes e não consegui perceber nenhuma reação que me servisse. E mais: mesmo que o assunto fosse abordado ao ponto de o cara falar "imagina, isso não pode ser um impedimento para fulano se relacionar com beltrano", uma coisa é falar de terceiros -- outra é lidar com o problema diretamente.
Como já disse antes, não julgo ninguém por ter esse tipo de reação. Eu mesmo não sei como lidaria com essa questão há 2 anos. Mas agora que estou na posição mais desfavorecida, ainda não consigo agir de maneira natural e ter segurança para avançar e me expor ao risco de ser rejeitado.
Se fosse um sexo casual e eu tomasse todos os cuidados para não expor o cara, eu teria necessariamente que falar antes sobre meu status? No caso de uma paquera, se eu chegasse a transar com o cara sem falar antes, como ele reagiria se eu falasse depois?
Começar um relacionamento nunca é fácil. Neste contexto, parece-me impossível.
É automático, não tenho controle. Nem adianta tentar usar fórmulas de O Segredo e pensar positivamente porque não rola. E olha que estou falando de troca de olhares, nem um passo além disso eu permito que aconteça. Tudo bem que sempre fui muito tímido e só dava algum passo muito raramente, sempre em tiros certeiros. Mas agora eu nem me permito jogar com a sedução, porque se a coisa avançar para algum contato direto, eu terei medo de me interessar pelo cara. Se eu me interesso por ele e vice-versa, a coisa pode seguir mais adiante e eu vou ter muito medo de falar de meu status e ser rejeitado. Então, porque não evitar logo todo esse aborrecimento e abortar a missão logo de cara?
Um amigo me sugeriu a seguinte estratégia: vou seguindo naturalmente e, num momento oportuno, se for o caso, jogo o assunto sem falar particularmente de mim mesmo para ver a reação do cara. Daí, posso saber se sigo mais adiante ou não... porra, além de me dar preguiça de nadar para morrer na praia, não sei em que ponto teria segurança de me expor. Quando exatamente eu teria a coragem de tocar no assunto? Vou ter que esperar o ponto de não-retorno? Vai parecer que estou cozinhando o cara....
Afora isso, eu já tentei essa estratégia antes e não consegui perceber nenhuma reação que me servisse. E mais: mesmo que o assunto fosse abordado ao ponto de o cara falar "imagina, isso não pode ser um impedimento para fulano se relacionar com beltrano", uma coisa é falar de terceiros -- outra é lidar com o problema diretamente.
Como já disse antes, não julgo ninguém por ter esse tipo de reação. Eu mesmo não sei como lidaria com essa questão há 2 anos. Mas agora que estou na posição mais desfavorecida, ainda não consigo agir de maneira natural e ter segurança para avançar e me expor ao risco de ser rejeitado.
Se fosse um sexo casual e eu tomasse todos os cuidados para não expor o cara, eu teria necessariamente que falar antes sobre meu status? No caso de uma paquera, se eu chegasse a transar com o cara sem falar antes, como ele reagiria se eu falasse depois?
Começar um relacionamento nunca é fácil. Neste contexto, parece-me impossível.
To be continued...
sexta-feira, 25 de abril de 2008
positive vibrations
Tenho um amigo que nunca fez o exame anti-hiv. Ele se recusa a fazer, prefere não saber. A primeira vez que eu saí com um cara, a camisinha estourou e eu fiquei em pânico. Liguei para ele perguntando se ele havia feito ou se faria o exame. Ele disse que nunca havia feito e não pensava em fazê-lo.
O medo de saber é grande. Todos sabem o quanto se expuseram e quantos riscos correm a cada relação que não seja 100% protegida -- e quase ninguém tem relações 100% protegidas, do início ao fim (conheci poucas pessoas que faziam sexo oral com preservativo).
Mas fazer o exame é essencial. Eu fazia todos os anos, 2 vezes ao ano. Poucas vezes tive medo do resultado. Quando saiu positivo pela primeira vez, eu não esperava e não quis acreditar. Fui surpreendido e neguei até onde pude. Pesquisei todos os sites negacionistas e procurei uma saída para aquela situação. Pensei em me matar, pensei em fazer 1000 besteiras.
Um ano e meio depois, não posso dizer que seja fácil conviver com essa realidade. Nem vou dizer que estou tranquilo e que minha vida não mudou em nada por causa do hiv. Mas posso afirmar: é melhor saber do que ficar na ignorância, para se proteger e para proteger a quem se ama.
Para aqueles que tiveram o diagnóstico recentemente, posso dizer o seguinte: não é o fim do mundo. Muitas coisas mudam, com certeza, mas não é o fim do caminho. Há muitas maneiras de se lidar com o hiv que não necessariamente nos colocam a cabeça numa guilhotina. Há vida após o diagnóstico do hiv!
Mudei muito minha maneira de ver a vida e, principalmente, o futuro. Já fui muito pouco prudente e inconsequente nas minhas relações e na minha maneira de lidar com a minha vida. Hoje sou um pouco mais criterioso: não posso expor ninguém sem que ele saiba de meu status, não posso me expor demais, não posso me dar ao luxo de seduzir e me envolver com qualquer um... Não faço planos de longo prazo, mas nunca fiz. Sempre fui meio incrédulo com relação ao futuro (meu e da humanidade). Mas ainda tenho alguns sonhos e aspirações que pretendo realizar: viagens, experiências, conquistas...
Ter encontrado (mesmo que virtualmente) algumas pessoas que vivem com este mesmo problema tem me ajudado a lidar com isso tudo. Ler sobre a experiência alheia sempre ajuda. Os relatos podem ser inspiradores, assim como também podem ser um balde de água fria. Mas sempre é bom saber que não estamos sozinhos. Outras pessoas também sofrem as mesmas angústias, questionam as mesmas coisas, têm os mesmos medos.
E, vamos combinar?, no mundo em que vivemos hoje, ser soropositivo num país como o Brasil ou em qualquer outro lugar onde haja acesso a tratamento para controlar o hiv, não é o pior que pode acontecer. Imagino a dor dos que sofrem as mazelas da aids em África, por exemplo, onde já há tão pouco para aplacar tanta miséria material e humana, tanta fome, tanta sede, tanta violência... e para piorar, a aids!
E a ironia disso tudo: uma doença que se transmite pelo contágio íntimo... o que deveria ser fonte de prazer e expressão de amor passa a ser a causa de tanto medo e tanta dor. O que deveria edificar as relações e firmar os laços entre as pessoas, pode ter o efeito oposto.
Com o hiv eu aprendi a me amar e me respeitar. É fácil sim seduzir e sair com alguém sem nenhum compromisso. É fácil enganar a baixa auto-estima com conquistas baratas e satisfação efêmera. O difícil é construir relacionamentos baseados na confiança, no amor sincero, na admiração mútua e na entrega.
E este é o grande desafio agora: para ter um relacionamento, o grau de confiança, sinceridade e do respeito deverá ser muito maior. Pelo menos é como sinto agora.
O medo de saber é grande. Todos sabem o quanto se expuseram e quantos riscos correm a cada relação que não seja 100% protegida -- e quase ninguém tem relações 100% protegidas, do início ao fim (conheci poucas pessoas que faziam sexo oral com preservativo).
Mas fazer o exame é essencial. Eu fazia todos os anos, 2 vezes ao ano. Poucas vezes tive medo do resultado. Quando saiu positivo pela primeira vez, eu não esperava e não quis acreditar. Fui surpreendido e neguei até onde pude. Pesquisei todos os sites negacionistas e procurei uma saída para aquela situação. Pensei em me matar, pensei em fazer 1000 besteiras.
Um ano e meio depois, não posso dizer que seja fácil conviver com essa realidade. Nem vou dizer que estou tranquilo e que minha vida não mudou em nada por causa do hiv. Mas posso afirmar: é melhor saber do que ficar na ignorância, para se proteger e para proteger a quem se ama.
Para aqueles que tiveram o diagnóstico recentemente, posso dizer o seguinte: não é o fim do mundo. Muitas coisas mudam, com certeza, mas não é o fim do caminho. Há muitas maneiras de se lidar com o hiv que não necessariamente nos colocam a cabeça numa guilhotina. Há vida após o diagnóstico do hiv!
Mudei muito minha maneira de ver a vida e, principalmente, o futuro. Já fui muito pouco prudente e inconsequente nas minhas relações e na minha maneira de lidar com a minha vida. Hoje sou um pouco mais criterioso: não posso expor ninguém sem que ele saiba de meu status, não posso me expor demais, não posso me dar ao luxo de seduzir e me envolver com qualquer um... Não faço planos de longo prazo, mas nunca fiz. Sempre fui meio incrédulo com relação ao futuro (meu e da humanidade). Mas ainda tenho alguns sonhos e aspirações que pretendo realizar: viagens, experiências, conquistas...
Ter encontrado (mesmo que virtualmente) algumas pessoas que vivem com este mesmo problema tem me ajudado a lidar com isso tudo. Ler sobre a experiência alheia sempre ajuda. Os relatos podem ser inspiradores, assim como também podem ser um balde de água fria. Mas sempre é bom saber que não estamos sozinhos. Outras pessoas também sofrem as mesmas angústias, questionam as mesmas coisas, têm os mesmos medos.
E, vamos combinar?, no mundo em que vivemos hoje, ser soropositivo num país como o Brasil ou em qualquer outro lugar onde haja acesso a tratamento para controlar o hiv, não é o pior que pode acontecer. Imagino a dor dos que sofrem as mazelas da aids em África, por exemplo, onde já há tão pouco para aplacar tanta miséria material e humana, tanta fome, tanta sede, tanta violência... e para piorar, a aids!
E a ironia disso tudo: uma doença que se transmite pelo contágio íntimo... o que deveria ser fonte de prazer e expressão de amor passa a ser a causa de tanto medo e tanta dor. O que deveria edificar as relações e firmar os laços entre as pessoas, pode ter o efeito oposto.
Com o hiv eu aprendi a me amar e me respeitar. É fácil sim seduzir e sair com alguém sem nenhum compromisso. É fácil enganar a baixa auto-estima com conquistas baratas e satisfação efêmera. O difícil é construir relacionamentos baseados na confiança, no amor sincero, na admiração mútua e na entrega.
E este é o grande desafio agora: para ter um relacionamento, o grau de confiança, sinceridade e do respeito deverá ser muito maior. Pelo menos é como sinto agora.
terça-feira, 22 de abril de 2008
susto
Semana passada fui a um dermatologista. Nada de sério, queria aproveitar o fim do verão e usar uns ácidos e cremes para renovar a cútis. Na anamnese, ele me perguntou se eu tinha alguma doença e falei que sou soropositivo há quase 2 anos e "não, não tomo medicamentos". Ele ainda pareceu surpresö: "pensei que começassem os anti-retrovirais logo no início". Ele me examinou dos pés à cabeça, literalmente. Nada com que se preocupar, mas... "Há uns pontos de lipodistrofia aqui", disse apontando perto da maçã do rosto, "nada com que se preocupar, é normal em paciente hiv+". Falou que tem vários pacientes hiv+, perguntei sobre a aplicação de ácido polilático, ele falou de sua experiência com esse preenchimento, blá blá blá... Vi em suas anotações assim: "Lipodistrofia (hiv?)"
Foi um choque de realidade. A relidade de ser soropositivo ali, no diagnóstico dos efeitos do hiv na minha pele. Eu já havia lido algo a respeito e fiquei muito impactado. Saí do prédio onde fica o consultório segurando o choro, coloquei os óculos escuros e peguei o carro no estacionamento. Aí, já chorava copiosamente. "Ele já está causando seus estragos", pensei. Tentei ligar para um amigo médico e nada. Insisti. Nada. Lá pras tantas, mandei uma mensagem de texto. Pedi que me ligasse. Ele me ligou algum tempo depois. Eu estava almoçando. Discretamente falei que "fui a um dermatologista e ele falou que tenho pontos de lipodistrofia no rosto". "Como ele disse isso? Você não toma anti-retrovirais!! Por que você foi ao dermatologista?" Fez um escândalo. Gritou do outro lado e falou que ia conversar com especialistas a respeito, pois desconhecia essa ação do hiv na pele.
Mais tarde me ligou novamente e falou que não procedia tal diagnóstico, que eu não deveria ter falado nada de meu status sorológico... "Mas ele me perguntou se eu tinha alguma doença, eu vou mentir para um médico?" "Você não é obrigado a falar se não for fazer nenhum procedimento invasivo! Ele aproveitou o que você disse para vender o peixe dele e fazer preenchimento no seu rosto! Não se vê lipodistrofia com uma lupa e não se diagnostica sem levar em consideração o resto do corpo blá blá blá..."
Bom, fiquei mais tranquilo no resto do dia, mas de noite conversamos mais. Parece que não há um consenso. Cheguei a ver uma estatística, acho que em torno de 9% dos hiv+ podem ter alguma lipodistrofia facial sem tomar os anti-retrovirais. Mas o pior de tudo foi o médico falar sem ter certeza, sem levar em consideração o impacto de sua afirmação sobre o paciente -- EU!
Deu uma balançada boa. Fiquei atordoado com a notícia de que o bichinho já está fazendo estragos -- e o pior, aparentes! Como teria que viajar a trabalho no dia seguinte, resolvi deixar o assunto na geladeira. A viagem nem me permitiu pensar de novo nisso e, quando voltei, resolvi jogar fora as receitas dos cremes milagrosos do Dr. que me custariam a bagatela de R$ 500,00.
==============================
Antes de viajar, tentei falar com o camarada com quem eu me encontrei umas duas vezes. Ele não atendeu o celular e ainda o vi online no site de relacionamento mas offline no messenger. Saquei tudo. Mas mesmo assim mandei um sms. Nada de resposta. Enquanto estava lá, o vi online no site de relacionamento e mandei um email perguntando se ele havia esquecido de mim ou o quê. A resposta foi aquele velho papo: "gostei de te conhecer mas não me empolguei para um relacionamento sério". Como assim? "Mas quem falou em relacionamento sério?" respondi.
Esse povo tem cada uma. Não pensava em relacionamento sério com ele. Saquei que não teria nada a ver, ok. Nem por isso deixaria de falar com ele ou até mesmo encontrá-lo eventualmente para algo "não-sério".
Fala sério!
Foi um choque de realidade. A relidade de ser soropositivo ali, no diagnóstico dos efeitos do hiv na minha pele. Eu já havia lido algo a respeito e fiquei muito impactado. Saí do prédio onde fica o consultório segurando o choro, coloquei os óculos escuros e peguei o carro no estacionamento. Aí, já chorava copiosamente. "Ele já está causando seus estragos", pensei. Tentei ligar para um amigo médico e nada. Insisti. Nada. Lá pras tantas, mandei uma mensagem de texto. Pedi que me ligasse. Ele me ligou algum tempo depois. Eu estava almoçando. Discretamente falei que "fui a um dermatologista e ele falou que tenho pontos de lipodistrofia no rosto". "Como ele disse isso? Você não toma anti-retrovirais!! Por que você foi ao dermatologista?" Fez um escândalo. Gritou do outro lado e falou que ia conversar com especialistas a respeito, pois desconhecia essa ação do hiv na pele.
Mais tarde me ligou novamente e falou que não procedia tal diagnóstico, que eu não deveria ter falado nada de meu status sorológico... "Mas ele me perguntou se eu tinha alguma doença, eu vou mentir para um médico?" "Você não é obrigado a falar se não for fazer nenhum procedimento invasivo! Ele aproveitou o que você disse para vender o peixe dele e fazer preenchimento no seu rosto! Não se vê lipodistrofia com uma lupa e não se diagnostica sem levar em consideração o resto do corpo blá blá blá..."
Bom, fiquei mais tranquilo no resto do dia, mas de noite conversamos mais. Parece que não há um consenso. Cheguei a ver uma estatística, acho que em torno de 9% dos hiv+ podem ter alguma lipodistrofia facial sem tomar os anti-retrovirais. Mas o pior de tudo foi o médico falar sem ter certeza, sem levar em consideração o impacto de sua afirmação sobre o paciente -- EU!
Deu uma balançada boa. Fiquei atordoado com a notícia de que o bichinho já está fazendo estragos -- e o pior, aparentes! Como teria que viajar a trabalho no dia seguinte, resolvi deixar o assunto na geladeira. A viagem nem me permitiu pensar de novo nisso e, quando voltei, resolvi jogar fora as receitas dos cremes milagrosos do Dr. que me custariam a bagatela de R$ 500,00.
==============================
Antes de viajar, tentei falar com o camarada com quem eu me encontrei umas duas vezes. Ele não atendeu o celular e ainda o vi online no site de relacionamento mas offline no messenger. Saquei tudo. Mas mesmo assim mandei um sms. Nada de resposta. Enquanto estava lá, o vi online no site de relacionamento e mandei um email perguntando se ele havia esquecido de mim ou o quê. A resposta foi aquele velho papo: "gostei de te conhecer mas não me empolguei para um relacionamento sério". Como assim? "Mas quem falou em relacionamento sério?" respondi.
Esse povo tem cada uma. Não pensava em relacionamento sério com ele. Saquei que não teria nada a ver, ok. Nem por isso deixaria de falar com ele ou até mesmo encontrá-lo eventualmente para algo "não-sério".
Fala sério!
domingo, 13 de abril de 2008
aula de etiqueta
Nesse blog, encontrei um guia de como se comportar diante de portadores do hiv/aids. Achei interessante a abordagem sem rodeios da autora, explorando aspectos objetivos e subjetivos da questão.
Foi fácil me identificar com o comportamento a ser evitado e como a autora descreve as reações naturais de alguém que encontra uma pessoa hiv+. Lembro como sempre achei difícil saber o que fazer e falar diante de pessoas com hiv, câncer ou outra doença crônica grave. A cerimônia, a abordagem excessivamente cuidadosa e atenciosa, as "luvas de veludo", o comportamento medido e artificial... Isso tudo afasta mais do que aproxima, discrimina mais do que acolhe. Mas muitas vezes, é nosso reflexo natural diante do novo, do desconhecido, do que nos dá medo.
A autora fala que conhecer alguém hiv+ é uma forma de humanizar doença e ver além das estatísticas, manchetes de jornais e grupos de risco. A aids é uma doença que assusta e muitas pessoas se assustam diante de um portador da doença, identificando o mal com aquele que sofre dele.
Ela ressalta a importância de se educar sobre o assunto, tanto para entender a diferença entre ser hiv+ e ter aids, como para perceber que é um problema que não está tão distante -- logo, pode atingir qualquer um e exige cuidado e prevenção sempre. Afinal, não é uma doença restrita a guetos específicos, o hiv rompeu as barreiras de gênero, raça, classe e orientação sexual.
Outro ponto interessante é a maneira de se referir aos portadores do hiv e doentes de aids como "vítimas" da doença, como se não houvesse esperança diante de seu problema. Assim como o termo "vítima inocente", usado na década de oitenta para as pessoas que contraíram o hiv através de transfusões de sangue, por exemplo, em contraste com os que se comportaram inadequadamente e acabaram se infectando -- os não-inocentes / culpados?
Vale dar uma olhada e refletir não apenas sobre o hiv em si, mas também sobre respeito, dignidade e humanidade.
Foi fácil me identificar com o comportamento a ser evitado e como a autora descreve as reações naturais de alguém que encontra uma pessoa hiv+. Lembro como sempre achei difícil saber o que fazer e falar diante de pessoas com hiv, câncer ou outra doença crônica grave. A cerimônia, a abordagem excessivamente cuidadosa e atenciosa, as "luvas de veludo", o comportamento medido e artificial... Isso tudo afasta mais do que aproxima, discrimina mais do que acolhe. Mas muitas vezes, é nosso reflexo natural diante do novo, do desconhecido, do que nos dá medo.
A autora fala que conhecer alguém hiv+ é uma forma de humanizar doença e ver além das estatísticas, manchetes de jornais e grupos de risco. A aids é uma doença que assusta e muitas pessoas se assustam diante de um portador da doença, identificando o mal com aquele que sofre dele.
Ela ressalta a importância de se educar sobre o assunto, tanto para entender a diferença entre ser hiv+ e ter aids, como para perceber que é um problema que não está tão distante -- logo, pode atingir qualquer um e exige cuidado e prevenção sempre. Afinal, não é uma doença restrita a guetos específicos, o hiv rompeu as barreiras de gênero, raça, classe e orientação sexual.
Outro ponto interessante é a maneira de se referir aos portadores do hiv e doentes de aids como "vítimas" da doença, como se não houvesse esperança diante de seu problema. Assim como o termo "vítima inocente", usado na década de oitenta para as pessoas que contraíram o hiv através de transfusões de sangue, por exemplo, em contraste com os que se comportaram inadequadamente e acabaram se infectando -- os não-inocentes / culpados?
Vale dar uma olhada e refletir não apenas sobre o hiv em si, mas também sobre respeito, dignidade e humanidade.
faça o que eu digo
- pare de fumar
- beba menos álcool
- tome vitaminas e suplementos alimentares
- faça pequenas refeições a cada 3 horas
- corte doces e alimentos gordurosos
- beba pelo menos 3 litros de água por dia
- faça exercícios
- durma pelo menos 8 horas por dia
- não fique horas na frente da tv ou internet
- leia pelo menos 15 páginas de um bom livro por dia
- ande ao ar livre, em contato com a natureza, pelo menos nos fins de semana
- cultive e mantenha amizades
- mantenha contato com a família
- tenha um relacionamento afetivo saudável, de cumplicidade e companheirismo
sexta-feira, 11 de abril de 2008
blue friday
Hoje trabalhei como um louco, enfrentando o trânsito caótico dessa cidade debaixo de um sol de foder com os miolos. Nas idas e vindas, um sentimento hora e vez tomava conta de mim. Uma saudade. Pensei no ex. Pensei no outro ex. Imaginei como eles estariam hoje. Imaginei como seria se eu estivesse com eles hoje. Imaginei como a vida é bacana quando estamos com alguém que amamos e somos correspondidos. Bateu saudade de momentos, das peculiaridades de cada um, do jeito de um falar ou do outro fazer palhaçada... Imaginei se terei isso novamente. Imaginei como seria voltar com algum deles. E aquela dúvida: será que fulano me aceitaria hiv+? A vida a dois deve ser bem mais fácil quando ambos são hiv-... ou hiv+.
Sinto que um deles já está way over me, totalmente ultrapassou qualquer saudade ou resquício de afeto. Isso doeu... E sei que o outro ainda pensa e sofre por mim... Mas não acredito na viabilidade daquela relação... Isso também dói.
Olhar pro passado às sextas-feiras está virando um ritual. Um Shabbat torto. A carga de trabalho da semana vai aos poucos aliviando para o fim de semana vir com toda força. Mas também um aperto no coração diante da perspectiva de não compartilhar momentos, descobrir novos lugares, não fazer nada...
Sei que não são saudades exatamente de pessoas, mas de experiências, de um estado... Essas referências são muito presentes na minha vida. E tocam fundo no medo de permanecerem as únicas...
Sinto que um deles já está way over me, totalmente ultrapassou qualquer saudade ou resquício de afeto. Isso doeu... E sei que o outro ainda pensa e sofre por mim... Mas não acredito na viabilidade daquela relação... Isso também dói.
Olhar pro passado às sextas-feiras está virando um ritual. Um Shabbat torto. A carga de trabalho da semana vai aos poucos aliviando para o fim de semana vir com toda força. Mas também um aperto no coração diante da perspectiva de não compartilhar momentos, descobrir novos lugares, não fazer nada...
Sei que não são saudades exatamente de pessoas, mas de experiências, de um estado... Essas referências são muito presentes na minha vida. E tocam fundo no medo de permanecerem as únicas...
quinta-feira, 10 de abril de 2008
hiv no mundo
Estou me envolvendo cada vez mais com o propósito de atuar pela causa do hiv/aids. Tenho lido coisas interessantes e muito da experiência pessoal de outros hiv+ mundo afora -- acrescentei novos links na listinha ao lado. Além dos blogs de brasileiros e gringos que sempre leio, destaco alguns que mostram o que anda rolando por aí de campanhas etc. Há muito sendo feito -- e muito mais a fazer. Espero poder contribuir para que o hiv deixe de ser a causa de tanto sofrimento e preconceito.
The International Carnival of Pozitivities
Fórum internacional para soropositivos, pessoas que convivam com soropositivos ou envolvidas na luta contra a pandemia de hiv/aids. São textos, poesias, depoimentos, músicas e vídeos enviados por pessoas do mundo todo. Cada edição é hospedada num servidor diferente, percorrendo todos os continentes. Fui convidado pelo Ron (2sides2ron), idealizador do carnaval, para colocar um dos meus posts na próxima edição. :-)
Hope's Voice International
Organização que busca educar os jovens na prevenção do hiv/aids, usando outros jovens para catalizar a mudança de comportamento e percepção em relação à doença. Como muitos outros movimentos, há um reconhecimento de que os jovens estão no centro da crise e devem ser o centro da solução, pela prevenção e pela luta contra os preconceitos.
Does HIV look like me?
Campanha criada pela Hope's Voice International para combater o preconceito e os estigmas da doença, tendo como embaixadores jovens hiv+ de 15 a 29 anos, para educar o público sobre a doença e lhes mostrar que não estão sozinhos.
What if it were you?
Concurso de posteres para inspirar os jovens a desenvolver e expressar uma percepção mais inclusiva do hiv/aids e promover a prevenção e compaixão, além de erradicar a ignorância e a apatia dos jovens em relação ao assunto. O objetivo maior é eliminar os estigmas da doença e conscientizar os jovens sobre os riscos de infecção pelo hiv.
One Tough Pirate
Bob Bowers, Da Pirate, é um sobrevivente: há 24 anos hiv+, é casado há 7 com Shawn (ela é hiv-). Ele é o presidente e fundador do
HIVictorious
Um belo trabalho de conscientização sobre métodos de prevenção e contra o preconceito e estigmas da doença. Seu lema: "Compassion is our cure".
POZIAM
Robert Breining tem 28 anos e vem fazendo um trabalho para elevar a consciência a respeito do hiv e aids a partir de sua experiência pessoal. Seu site e seu blog são imperdíveis. E ele é um fofo.
The International Carnival of Pozitivities
Fórum internacional para soropositivos, pessoas que convivam com soropositivos ou envolvidas na luta contra a pandemia de hiv/aids. São textos, poesias, depoimentos, músicas e vídeos enviados por pessoas do mundo todo. Cada edição é hospedada num servidor diferente, percorrendo todos os continentes. Fui convidado pelo Ron (2sides2ron), idealizador do carnaval, para colocar um dos meus posts na próxima edição. :-)
Hope's Voice International
Organização que busca educar os jovens na prevenção do hiv/aids, usando outros jovens para catalizar a mudança de comportamento e percepção em relação à doença. Como muitos outros movimentos, há um reconhecimento de que os jovens estão no centro da crise e devem ser o centro da solução, pela prevenção e pela luta contra os preconceitos.
Does HIV look like me?
Campanha criada pela Hope's Voice International para combater o preconceito e os estigmas da doença, tendo como embaixadores jovens hiv+ de 15 a 29 anos, para educar o público sobre a doença e lhes mostrar que não estão sozinhos.
What if it were you?
Concurso de posteres para inspirar os jovens a desenvolver e expressar uma percepção mais inclusiva do hiv/aids e promover a prevenção e compaixão, além de erradicar a ignorância e a apatia dos jovens em relação ao assunto. O objetivo maior é eliminar os estigmas da doença e conscientizar os jovens sobre os riscos de infecção pelo hiv.
One Tough Pirate
Bob Bowers, Da Pirate, é um sobrevivente: há 24 anos hiv+, é casado há 7 com Shawn (ela é hiv-). Ele é o presidente e fundador do
HIVictorious
Um belo trabalho de conscientização sobre métodos de prevenção e contra o preconceito e estigmas da doença. Seu lema: "Compassion is our cure".
POZIAM
Robert Breining tem 28 anos e vem fazendo um trabalho para elevar a consciência a respeito do hiv e aids a partir de sua experiência pessoal. Seu site e seu blog são imperdíveis. E ele é um fofo.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Sempre quis que ele soubesse. Queria que ele entendesse muitas coisas. Como contar algo assim a alguém que não está tão perto e que, quando está perto, é para momentos de muita alegria?
Conhecemo-nos há pouco menos de 3 anos e sempre tivemos uma sintonia muito grande. Nossa relação sempre foi especial, mas nunca estive disponível, pois sempre estive muito ligado a outra pessoa. Apesar de haver uma coisa muito forte entre nós, sempre mantive a distância física.
Recentemente, já solteiro, ensaiei uma aproximação mais física. Mas em seguida, dei um passo atrás. Não conseguiria dar mais um passo. Não me sentia pronto e não faria nada de forma superficial. Além disso, não poderia fazer mais nada sem que ele soubesse de meu status.
Outro dia, estávamos conversando no messenger. Ele me falava de seus sentimentos por mim e como eu me comporto em relação a ele. "não sei o q se passa mas acho que o problema é meu mesmo", disse ele. Perguntei se estava com tempo e mandei o endereço deste blog para ele ler. Meu coração pulava dentro do peito desesperadamente. Levantei para tomar água. Voltei. Um breve tempo de silêncio.
"e aí? fico mais fodido com vc se de fato for isso e vc nunca me ter falado" foi o que ele disse. E me perguntou se alguma vez eu lhe perguntei o quanto ele me ama. Cobrou-me por não ter falado antes. Pedi que não me julgasse e falei que se fosse fácil estampava numa camiseta. Bom, isso tudo já aos prantos. Ele me ligou e conversamos. Estava chocado; eu, aliviado e me sentindo exposto. Falamos coisas que nem me lembro agora. Ele foi acolhedor, carinhoso.
Desligamos e ele voltou ao messenger. Falou que tinha lido os posts desse blog. Que ficaria calado para que eu falasse tudo que eu quisesse falar a um amigo. Pedi que guardasse segredo. Sim, segredo. Preocupação desnecessária, ele jamais cometeria qualquer indiscrição. Mas tenho medo de me expor sim, de ser estigmatizado, de ser segregado. Ele falou que nem precisava ter pedido isso. Falamos mais sobre o passado, ele falou que muita coisa passou a fazer sentido para ele. E terminou dizendo "quero saber sempre tudo de você, em primeiro lugar".
Foi uma catarse. Foi libertador. Pergunto-me por que levei tanto tempo para confiar no amor. Amigos se amam. Amigos se aceitam. Amigos se apóiam. Obrigado, meu amigo.
Conhecemo-nos há pouco menos de 3 anos e sempre tivemos uma sintonia muito grande. Nossa relação sempre foi especial, mas nunca estive disponível, pois sempre estive muito ligado a outra pessoa. Apesar de haver uma coisa muito forte entre nós, sempre mantive a distância física.
Recentemente, já solteiro, ensaiei uma aproximação mais física. Mas em seguida, dei um passo atrás. Não conseguiria dar mais um passo. Não me sentia pronto e não faria nada de forma superficial. Além disso, não poderia fazer mais nada sem que ele soubesse de meu status.
Outro dia, estávamos conversando no messenger. Ele me falava de seus sentimentos por mim e como eu me comporto em relação a ele. "não sei o q se passa mas acho que o problema é meu mesmo", disse ele. Perguntei se estava com tempo e mandei o endereço deste blog para ele ler. Meu coração pulava dentro do peito desesperadamente. Levantei para tomar água. Voltei. Um breve tempo de silêncio.
"e aí? fico mais fodido com vc se de fato for isso e vc nunca me ter falado" foi o que ele disse. E me perguntou se alguma vez eu lhe perguntei o quanto ele me ama. Cobrou-me por não ter falado antes. Pedi que não me julgasse e falei que se fosse fácil estampava numa camiseta. Bom, isso tudo já aos prantos. Ele me ligou e conversamos. Estava chocado; eu, aliviado e me sentindo exposto. Falamos coisas que nem me lembro agora. Ele foi acolhedor, carinhoso.
Desligamos e ele voltou ao messenger. Falou que tinha lido os posts desse blog. Que ficaria calado para que eu falasse tudo que eu quisesse falar a um amigo. Pedi que guardasse segredo. Sim, segredo. Preocupação desnecessária, ele jamais cometeria qualquer indiscrição. Mas tenho medo de me expor sim, de ser estigmatizado, de ser segregado. Ele falou que nem precisava ter pedido isso. Falamos mais sobre o passado, ele falou que muita coisa passou a fazer sentido para ele. E terminou dizendo "quero saber sempre tudo de você, em primeiro lugar".
Foi uma catarse. Foi libertador. Pergunto-me por que levei tanto tempo para confiar no amor. Amigos se amam. Amigos se aceitam. Amigos se apóiam. Obrigado, meu amigo.
nota: Dame Elizabeth Taylor levantou meio bilhão
de dólares para a luta contra a AIDS
de dólares para a luta contra a AIDS
domingo, 6 de abril de 2008
apenas "bons" amigos
Aconteceu algo curioso no site de relacionamentos. Normalmente, não costumo dar muita bola para mensagens enviadas por hiv-. Mas um camarada me mandou uma mensagem demonstrando interesse coisa e tal. E eu respondi algo como "releia meu perfil com atenção e veja se sou realmente uma pessoa com quem você se relacionaria".
A resposta foi ótima: "ok... realmente não rola... mas se quiser podemos ser amigos."
Em primeiro lugar: nem posso dizer o que eu faria se estivesse na posição dele. Infelizmente estou no lado de cá, mas não posso julgá-lo por sua atitude, por mais que me doa e me revolte.
Em segundo lugar: "podemos ser amigos" de cu é rola. Bela maneira de se começar uma linda amizade. Se fosse: "quero te conhecer, o que vai rolar a partir de um encontro é sempre um mistério" é uma coisa. Até porque "realmente não rola" o quê? O que rolaria? Toda aproximação acontece a partir de algum interesse. E se não há "este" interesse, qual outro haveria? Além disso, meus amigos, amigo não se pinça virtualmente em meio a uma multidão de anônimos virtuais. Amigo entra na sua vida pela porta da frente e fica. Como posso querer ser amigo de alguém nesse contexto? "Ah, claro! Vamos ser amigos! Melhores amigos de infância!" Não tenho um amigo que não tenha ficado na minha vida por afinidade, afeto ou circunstâncias que muito favorecessem. Um contato muito rápido e indireto na impessoalidade virtual da internet não tem nada que favoreça uma amizade.
Passo.
A resposta foi ótima: "ok... realmente não rola... mas se quiser podemos ser amigos."
Em primeiro lugar: nem posso dizer o que eu faria se estivesse na posição dele. Infelizmente estou no lado de cá, mas não posso julgá-lo por sua atitude, por mais que me doa e me revolte.
Em segundo lugar: "podemos ser amigos" de cu é rola. Bela maneira de se começar uma linda amizade. Se fosse: "quero te conhecer, o que vai rolar a partir de um encontro é sempre um mistério" é uma coisa. Até porque "realmente não rola" o quê? O que rolaria? Toda aproximação acontece a partir de algum interesse. E se não há "este" interesse, qual outro haveria? Além disso, meus amigos, amigo não se pinça virtualmente em meio a uma multidão de anônimos virtuais. Amigo entra na sua vida pela porta da frente e fica. Como posso querer ser amigo de alguém nesse contexto? "Ah, claro! Vamos ser amigos! Melhores amigos de infância!" Não tenho um amigo que não tenha ficado na minha vida por afinidade, afeto ou circunstâncias que muito favorecessem. Um contato muito rápido e indireto na impessoalidade virtual da internet não tem nada que favoreça uma amizade.
Passo.
sábado, 5 de abril de 2008
hiv e culpa
Tentações de Santo Antão, Hieronymus Bosch
No universo de gays soropositivos, tenho encontrado representantes de 3 grandes grupos: pessoas que se contaminaram em relações monogâmicas, ou seja, o parceiro pulou a cerca e trouxe o hiv para dentro de casa; outras aprontaram para valer e acabaram se expondo demais; há pessoas que nem aprontavam tanto, mas por um acidente ou uma negligência isolada acabaram se contaminando.
No site de relacionamentos, a apresentação de cada perfil hiv+ define claramente a postura de cada um ali, independente de como tenham se contaminado. Há pessoas que assumem o status sorológico e anunciam o desejo de manter relações com múltiplos parceiros sem preservativos, mostrando um forte aspecto de devassidão e promiscuidade (barebackers); pessoas que estão ali para amizades, sexo e/ou relacionamento; e pessoas que repudiam o sexo casual e/ou fora do contexto de um relacionamento, desejando apenas encontrar alguém para algo "sério".
No primeiro caso, nem posso ser leviano ao ponto de afirmar que sejam bug chasers ou que sejam pessoas promíscuas desde sempre e a infecção não alterou seu comportamento.
Os que adotam a segunda postura predominam, mas um discurso mais superficial pode estar mascarando sentimentos de culpa e revolta.
A terceira postura pode ser de pessoas que sempre foram mais conservadoras OU são simplesmente os ARREPENDIDOS.
Independente do grupo ou da postura, há dois pensamentos muito comuns: desejo de ter um relacionamento sério e percepção de que o hiv seja um castigo ou lição da vida (este predomina mais no terceiro grupo, no caso dos arrependidos), através de um discurso que pode ser resumido da seguinte forma: "já aprendi uma grande lição, não posso cometer o mesmo erro". Aliás, essa frase foi tirada de um perfil de um site de encontros.
Obviamente, há um grande peso de religiosidade nesse tipo de pensamento. E muitos "escolhem" não mais praticar sexo casual porque já aprenderam uma grande lição e agora querem um relacionamento sério, inspirando-se nos modelos tradicionais de relações e comportamento -- como se esse fosse o "correto" e que se tivessem agido assim desde sempre não teriam se contaminado,
Como eu já conheci pessoas que tinham culpa pelo próprio prazer (esses normalmente tomam banho correndo depois da transa), imagina o cara viver culpado por ser homossexual, praticar sexo homossexual e ainda se contaminar com o hiv!! Nem precisa frequentar uma igreja ou templo para concluir que o hiv é um castigo por má conduta.
Nem vou dizer que isso nunca passou pela minha cabeça. A gente se arrepende e se culpa, é claro, mas também pode assumir a responsabilidade sem precisar levar o hiv como uma punição divina pelos pecados cometidos. No meu caso, não me contaminei num momento de numerosas aventuras, pelo contrário, estava um tanto sossegado na época. Já havia feito coisas piores? Sim, com certeza. Mas mesmo não tendo acontecido numa onda de promiscuidade inconsequente, sei que poderia não ter acontecido. Mas aconteceu! E não foi a determinação de um deus severo que me colocou nessa.
Um estudo realizado por médicos da Universidade de Yale demonstrou que os pacientes terminais que discutiram com seus médicos sobre o agravamento da doença e medidas para recuperação expressaram:17% vontade de viver; 44% culpa pela infecção pelo hiv; 32% medo da morte; e 26% a doença é uma forma de punição
Este estudo tinha como objetivo informar aos médicos a importância de levar em consideração o grau de religiosidade de seus pacientes terminais. Os que tinham deus como uma figura benevolente e acolhedora eram mais abertos para convsersar sobre medidas a serem tomadas nas crises finais; acreditar que o hiv é era uma punição dificultava esse tipo de conversa.
Há estudos divergentes entre os efeitos negativos e positivos da religião sobre a saúde. Alguns inclusive indicam que a religiosidade surte maiores efeitos benéficos sobre a saúde de pessoas de baixo nível sócio-cultural. Claro que cada caso é um caso, muita gente pode encontrar na religião uma inspiração para superar traumas e manter uma postura positiva sobre a vida. Mas muitos também podem sucumbir ao peso da culpa e encarar a doença, por exemplo, como um castigo.
O fato de o hiv ter se disseminado inicialmente entre pessoas que praticavam o sexo livre ou compartilhavam seringas para injetar drogas foi um fator determinante para que grupos religiosos pregassem que a aids era um castigo de deus para o comportamento inadequado dos "pecadores". Mas e depois disso, quando o hiv atingiu pessoas "inocentes" ou de "boa conduta" através de transfusões de sangue ou em relações monogâmicas em que o parceiro trouxe o vírus para a intimidade?
Sentir culpa por ter pisado na bola é comum em qualquer área da vida. Mas carregar essa culpa de julgamentos morais e religiosos é outra coisa.
Há alguns grupos cristãos que colocam sob outras perspectiva: que oportunidade se cria com a soroconversão? Qual seria o chamado diante de uma situação dessa? São questões interessantes diante de qualquer que seja o problema / causa de sofrimento...
Uma coisa é certa: manter propósitos edificantes na vida é um fator que contribui para a qualidade de vida de qualquer pessoa. Assim como estar em contato consigo mesmo para fazer boas escolhas no que diz respeito a trabalho e relacionamentos.
O hiv muda a vida de qualquer pessoa. Cabe a cada um decidir o que fará com essa realidade.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Melhor ser surdo...
Hoje no táxi o assunto foi sobre a morte da menina que caiu ou foi jogada da janela em São Paulo, crueldade contra uma criança inocente etc. Daí, o motorista emendou na história de um concunhado que foi condenado por estuprar a irmã deficiente mental de uma cunhada e toda a violência sexual que ele, o estuprador, sofreu na cadeia. Daí, contou a história de um cara que pesava 150 quilos e agora está totalmente consumido pela aids, além de outras sequelas que ele detalhou morbidamente. A mulher do cara já morreu e o filho de 4 anos também. Quando ele ia emendar numa outra história semelhante, eu interrompi fazendo uma ligação do celular para não ter que ouvir mais nada.
Dá para imaginar como fiquei com esse papo.
Entrei num restaurante para almoçar e comi quase 1 quilo de comida. Cheguei em casa e tomei mais uma dose de minhas vitaminas.
Dá para imaginar como fiquei com esse papo.
Entrei num restaurante para almoçar e comi quase 1 quilo de comida. Cheguei em casa e tomei mais uma dose de minhas vitaminas.
terça-feira, 1 de abril de 2008
Um sonho
Logo após meu diagnóstico, eu tive um sonho, um dos mais incríveis da minha vida:
O cenário era algo meio futurista decadente neo noir / blade runner. Era um edifício desses enooormes, como o minhocão da auto-estrada Lagoa-Barra, que se estendia por uma grande área. Dentro do edifício, cada andar era uma pequena cidade, com transporte público (tipo um trenzinho ou bonde) circulando pelos corredores sujos, úmidos e escuros.
Eu estava acompanhado. Eram pessoas familiares, mas ninguém que eu conhecesse na vida real. Entramos num dos apartamentos. Era um ambiente muito agradável, como casa de artista plástico, com cores fortes, uma luz linda entrando pelo janelão, uma atmosfera muito positiva. Nesta sala, me entregaram uma criança. Um menino. Tinha o tamanho de um neném de mais de 6 meses, mas tinha todo aquele aspecto de recém-nascido, a pele avermelhada, a cara amassada. E me falaram: este é o seu filho. Meu espanto por conhecer meu filho, já com 6 meses, foi enorme, mas a alegria de abraçar aquela criaturinha junto ao meu corpo -- eu lembro que o coloquei no meu ombro como se faz quando a criança tem que arrotar e encostava meu rosto na altura de sua cinturinha... Foi uma felicidade incrível que só de lembrar eu sinto meu corpo todo vibrando. Lembro de ter pego o telefone e ligado para a minha mãe com a voz embargada: "mãe, o que você diria se eu te dissesse que você tem um neto e que ele já está com 6 meses?" perguntei com orgulho. Freud é de foder.
Acordei pela manhã com uma vibração por todo o corpo, como se todas as minhas células se agitassem de tanta felicidade e fiquei neste estado durante todo o dia.
Tentei interpretar esse sonho. Compartilhei com algumas amigas, mas elas não sabiam de meu diagnóstico então nem poderiam contribuir tanto. Lembro que tirei algumas conclusões na época, mas o mais importante foi a experiência e a memória do sonho e das emoções que afloraram. Como num contexto de tanto medo, tanta dor, tantas incertezas, um sonho me permitiu experimentar uma alegria que, acordado, nunca vivi algo comparável?
Kenneth Cole - nova campanha
Regan Hoffman é editora da POZ Magazine: uma mulher linda, loura e bem sucedida -- acima de qualquer suspeita de que poderia ser portadora do hiv há 12 anos. Escolhida dentre outras pessoas comuns mas com algo importante a dizer para a nova campanha de Kenneth Cole, que visa romper barreiras do preconceito e de estigmas: uma atleta de pernas artificiais, um jovem Sikh que luta contra o preconceito racial e religioso e Regan.
Regan tem um blog interessante, onde conta sua jornada com o hiv e fala de seu trabalho como ativista. Nessa entrevista, ela fala da dificuldade de revelar sobre seu status às pessoas à sua volta e a potenciais parceiros. Impossível para um poz não se identificar com o que ela diz.
As campanhas contra hiv-aids têm dois grandes focos: conscientizar sobre a importância da prevenção e quebrar os preconceitos e estigmas que sofrem os pacientes hiv+.
São duas missões difíceis de se cumprir, ainda mais se levarmos em consideração como uma pode acabar interferindo negativamente na outra. Exemplo: uma campanha com Magic Johnson, atleta heterossexual, convivendo com o hiv com muita saúde. A mensagem de que o hiv pode atingir até mesmo um homem heterossexual bem sucedido no que faz é positiva, mas muitas pessoas podem concluir que se Magic Johnson está saudável com o hiv e os tratamentos hoje disponíveis permitem controlar a doença, então não há por que ficar na neura de se contaminar. Logo, não há por que se precaver tanto...
Por outro lado, se uma campanha pega mais pesado na questão da doença e suas consequências, alertando para o fato de que os medicamentos atualmente existentes não garantem a cura efetiva, que todos devem se proteger seja em relações hetero ou homossexuais etc., isso pode reforçar o medo e os estigmas da doença -- podendo inclusive aumentar o preconceito. Difícil equilibrar os dois lados e educar as pessoas sobre a necessidade de se proteger e quebrar os estigmas e preconceitos relacionados à doença.
A lista de pessoas famosas que foram infectadas pelo hiv da Wikipedia é muito interessante. Alguns nomes que me chamaram atenção foram: Liberace (pianista), Michel Foucault (filósofo), Andy Bell (vocalista do Erasure) e Isaac Asimov (escritor de ficção-científica). Foucault eu já sabia, mas os demais foram uma surpresa, principalmente Isaac Asimov. Mas um nome que não consta na lista é o de Jason Gould, filho de Barbra Streisand, uma das grandes fomentadoras de fundos de pesquisa e campanhas de prevenção.
Esta lista mostra não apenas atores, músicos e escritores, mas também casos de infecções cientificamente notáveis: Robert R., um adolescente negro do Missouri que morreu em 1969 (!) de uma doença desconhecida, só identificada 12 anos depois (é considerado o primeiro caso de aids nos EUA). Também estão na lista Arvid Noe, marinheiro norueguês morto em 1976, e Margrethe Rask, médica dinamarquesa que trabalhava no Zaire e começou a apresentar sintomas da doença em 1974, morrendo em 1977.
Também nesta lista o "paciente zero", Gaëtan Dugas, comissário de bordo franco-canadense morto em 1984, aos 31 anos. A teoria que atribuía a Gaëtan o papel de disseminador da doença na América do Norte foi derrubada, mas sua fama permanece até hoje, coitado.
Essa história ainda rendeu o filme canadense Paciente Zero, do diretor John Greyson, um musical muito bem humorado que na verdade foi um manifesto contra o estudo científico que teorizou sobre esse tal paciente 0 e o sensacionalismo da grande mídia que impregnou a mente das pessoas com a idéia de doença gay.
Um fato é que a revolução sexual dos anos 70, e a conseqüente mudança no comportamento das pessoas, foi um dos fatores determinantes para o boom da doença, principalmente no meio gay. Talvez por serem livres para o sexo facilmente conseguido nos clubes gays de São Francisco, foram os homossexuais da capital gay do mundo que despertaram a atenção dos médicos para a desconhecida doença. O uso de drogas injetáveis também contribuiu em grande parte para a disseminação entre os heterossexuais. A partir daí, transfusões de sangue passaram a ter um papel importante na disseminação do hiv.
Alguns registros indicam que havia pacientes com sintomas da aids desde as décadas de 30 e 40 do século passado. Há uma amostra de plasma do sangue datada de 1959, atribuída a um homem da Zaire (República Democrática do Congo), que já continha o hiv.
Qualquer teoria que tente localizar geograficamente (África? Haiti?) o surgimento da aids ou que culpe um grupo específico (homossexuais?) acaba esbarrando em questões muito sensíveis e à ciência interessa muito mais chegar a vacinas e remédios que erradiquem definitivamente o hiv.
Por outro lado, teorias conspiratórias também carecem de respaldo e servem apenas para alimentar as mentes fantasiosas com história escabrosas de experimentos científicos, armas biológicas etc. Os negacionistas são os que mais adotam essas teorias e ajudam a difundir a noção de que o hiv não existe e a aids é causada pela pobreza ou pelos próprios medicamentos.
Assinar:
Postagens (Atom)