segunda-feira, 17 de março de 2008

Momentos iniciais

É curioso fazer uma retrospectiva daqueles primeiros minutos, horas, dias e semanas do meu diagnóstico.

Primeiro vem aquela sensação de que puxaram o tapete, saca? O chão falta e bate aquela sensação entre "é tudo um pesadelo" e o desespero do abismo. Pensei em me matar. Pensei em fazer tanta coisa para não sofrer as consequências da infecção. Em não desapontar as pessoas próximas... foi uma loucura. Neguei até o fim. Refiz o exame (de praxe) e confirmou. Pesquisei e vi que poderia ter sido um falso negativo causado por outras infecções que havia tido um mês antes.

Pesquisei em todos os sites que encontrei perspectivas de cura, curas alternativas, pesquisas etc. Encontrei aqueles sites de negacionistas dizendo que o vírus não existe, que nunca foi isolado, que não existe um padrão de referência para os exames anti-hiv, que inúmeras pessoas são diagnosticadas como positivas, começam tratamento e depois são tidas como falsos negativos e coisas do gênero.

Um mês depois dos primeiros exames, fiz uma carga viral e deu indetectável. Bom, neste ponto até minha irmão, que é médica, ficou surpresa... Na semana seguinte repeti o exame anti-hiv num laboratório e carga viral em outro. O anti-hiv deu negativo. Aí eu pirei de vez, chorei como doido querendo saber a verdade. Cheguei no escritório e abri um email com o resultado da carga viral: não sei quantas mil cópias. Fudeu! Nem deu tempo de comemorar ou pirar mais na esperança de ser tudo um engano.

Deixei o assunto em banho maria. Veio Natal, Ano Novo, meu irmão morreu num acidente... enfim, esperei mais um pouco e procurei um excelente laboratório para confirmar o anti-hiv. Conversei com o médico, fiz o exame. Telefonaram pedindo outra amostra. Pronto, a resposta estava ali, naquele telefonema. No meio de tantos traumas e perdas, esse assunto começou a adquirir outro peso. Quando se perde um irmão, aquele que já estava aqui quando eu cheguei e que eu sempre acreditei que estaria comigo até o fim, a escala de valores muda para muitas coisas. Depois de dar a notícia da morte do meu irmão à minha própria mãe, tudo mudou. Nem a morte é a pior perspectiva. Mas sofrer e ver o sofrimento da sua própria família pela perda de alguém tão próximo é foda. E, nesse contexto, não comentei mais o assunto com ninguém, nem com minha irmã. Só fui começar os exames de rotina para soropositivos alguns meses depois. Tudo sob controle.

Confesso que de tempos em tempos dou uma googlada nos termos HIV AIDS CURE... nada de novo!

"enquanto todo mundo espera a cura do mal, e a loucura finge que isso tudo é normal, eu finjo ter paciência..."

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