domingo, 18 de dezembro de 2011

Tempo

Depois de alguns meses offline, volto agora antes do fim do ano para encerrar 2011 sem deixar de atualizar os acontecimentos mais importantes.

No fim do primeiro semestre, sofri a perda de minha mãe. Foi um processo inesperado e muito doloroso. No final do período da internação dela, na semana em que veio a falecer, tive um episódio de Herpes Zoster severíssimo. Sem conseguir falar com minha médica, que eu simplesmente adorava mas era inacessível nas horas de maior necessidade, acabei indo parar num outro médico que me orientou no tratamento com Aciclovir. E também me indicou começar o tratamento com ARV, passando uma receita com a combinação que ele considerava a mais indicada. Isso foi exatamente na véspera do falecimento de minha mãe e, por recomendação de pessoas próximas, não iniciei o tratamento com ARV de imediato, somente o Aciclovir para controlar o Herpes Zoster.

Depois de mais ou menos 1 mês, consegui a indicação de um outro médico muito bem recomendado que me introduziu no universo paralelo dos ARVs. Tive de aprender em detalhes cada combinação, efeitos colaterais e outras informações sobre cada medicamento. Não tendo muita dúvida, mas sabendo que qualquer alternativa traria seus prós e seus contras, optei pela combinação que me parecia mais conveniente -- meio que um "sorteio racional", como aqueles chutes pensados em provas de múltipla escolha. Um fator que pesou em minha decisão é que eu queria que fosse 1 tomada diária, para simplificar ao máximo e reduzir o risco de esquecer, perder a hora etc.

O primeiro mês foi difícil, com um certo mal estar e desconforto estomacal. Tentei tomar um vinhozinho com amigos um dia e passei tão mal, tive uma noite infernal com dor cólica hepática. Nas primeiras semanas, o que me trouxe um certo alívio foi suco de babosa, que melhorava a sensação de queimação.

Depois de 2 meses, novos exames e a boas surpresas: efeitos colaterais foram aliviando aos poucos, os números dos exames foram se regularizando, a rotina com os medicamentos foi se estabelecendo.

Hoje posso dizer que 2011 talvez tenha sido um dos anos mais difíceis que vivi. Ainda faço o luto pela perda de minha mãe, claro. Mas consegui retomar minha atividade física -- pratico uma arte marcial e antes do fim do ano serei promovido de faixa.
No trabalho, a carga foi pesada mas administrável. Estou mais próximo de meu pai e minha irmã. Meu namorado tem sido um companheiro incrível, me apoiando muito e me dando muito amor.
Este ano foi a prova de que os processos mais dolorosos podem ser vividos e superados. Basta termos o apoio de pessoas queridas ao nosso redor e a consciência de que não se pode lutar contra o inevitável. A morte e a dor da perda são inevitáveis. Não há o que fazer quanto a isso. Aceitar, seguir em frente e viver o momento presente. Um dia de cada vez. Sempre.



Começar o tratamento com ARV era inevitável. Depois de 5 anos de infecção, eu poderia até desejar que demorasse mais 5, 10 anos. Mas um dia teria de acontecer. E está correndo bem.

Muitas boas notícias sobre perspectivas de novos tratamentos e vacinas, mas nada ainda que garanta a cura total do hiv. Esta boa notícia deverá esperar um pouco mais. No balanço de 30 anos dos primeiros casos de aids que alertaram os médicos da Califórnia, sabe-se que muito há que se fazer em países subdesenvolvidos, principalmente na África Subsaariana. Nos países em desenvolvimento e nos mais desenvolvidos, os números de novos contágios entre gays são um dado alarmante. Durante décadas, lutamos pelo fim do estigma de que a aids é uma doença gay. Devemos retomar as campanhas de conscientização e prevenção. Acima de tudo, todos devemos fazer o exame periodicamente e usar camisinha do início ao fim de todas as relações sexuais.

Eu me infectei numa situação improvável, com uma chance em um milhão de acontecer o pior. E aconteceu. Eu poderia ter contaminado outras pessoas caso não tivesse feito um exame rotineiro. Saber o status sorológico é uma das formas que temos de combater a disseminação do vírus entre parceiros fixos, eventuais ou mesmo one night stands. Tenho amigos gays que NUNCA fizeram um exame para saber seu status sorológico quanto ao hiv. São pessoas que namoram por períodos prolongados e acabam deixando a camisinha por amor e confiança mútua.

Usar camisinha é a verdadeira prova de amor.