terça-feira, 3 de março de 2009

Ignorância e Preconceito

Parece novela de Jane Austen ou filme com Emma Thompson e Anthony Hopkins, mas na prática são duas coisas indissociáveis: quanto maior a ignorância, maior o preconceito -- e vice-versa.

Outro dia, uma amiga me falou que tinha conhecido um carinha que era uma graça mas que ela achava que ele fosse garoto de programa por se depilar, cuidar demais do corpo etc. (preconceito número 1). Eu falei que era bobagem, que hoje muitos caras fazem isso por vaidade e parece até que o cara era personal trainer, então isso justificava na boa. Mas ela tinha medo que ele fosse garoto de programa porque ela queria transar com ele e tinha medo que ele tivesse "aids" (preconceito número 2).
Bom, eu falei para ela que em primeiro lugar, muitos profissionais do sexo se cuidam mais do que muita gente que transa (muito) por aí sem cobrar; em segundo lugar, ela deveria tomar todos os cuidados possíveis e necessário com todos os caras que ela conhecesse, independente de idade, profissão ou status sorológico.



Uma pessoa que tem vida sexual ativa deve se informar sobre formas de contágio e usar esse conhecimento para se prevenir, se proteger e proteger a quem se ama. Ficar indiferente ou ignorante no que diz respeito ao hiv e outras doenças sexualmente transmissíveis é falta de amor próprio. Como diz Susan Sontag,

Aids obliges people to think of sex as having, possibly,

the direst consequences: suicide. Or murder.

Pode soar dramático demais, mas é mais ou menos por aí. (Mais de Susan Sontag em breve.)

Algum tempo depois ela veio me contar que tinha transado com o cara e que achou ele muito cheio de frescura (!). Pedi um exemplo e ela falou "ele não quis me beijar depois de gozar na minha boca" (!!!). Bom, nem vou entrar nessa velha questão se o homem deve ou não beijar a boca onde ele acabou de gozar, isso é problema do gozador e do gozado. Mas para uma pessoa que parecia preocupada com a profissão e o status sorológico de um desconhecido, chegar ao ponto de deixar o cara gozar em sua boca pouco tempo depois de tê-lo conhecido mostra como as pessoas continuam MUITO ignorantes (e, por conseguinte, preconceituosas) e, por isso mesmo, não estão se cuidando como deveriam.

O preconceito, doença que turva nosso olhar e entorta nossa alma, que nos

diminui e nos emburrece, é uma das enfermidades mais sérias deste nosso mundo. (...)

Se permitirmos que essa doença maligna – o preconceito, pai do ódio e

filho da ignorância – nos domine, seremos em breve o mais atrasado no círculo dos

povos atrasados, uma manada confusa obedecendo a qualquer chibata ideológica.

Lya Luft

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