Acabo de assistir a um documentário da BBC, "I Love Being HIV Positive", que investiga o fenõmeno dos bugchasers, indivíduos hiv- que procuram caras hiv+ para se infectarem com o vírus. Eu já havia lido a respeito, já havia visto algo no documentário do Stephen Fry, "HIV and Me", mas este documentário foi um soco no estômago.
Ricky é o camarada que fez este documentário. Ele é hiv+ e se infectou num relacionamento pensando que seu namorado era negativo. Engano seu, hoje já convive com o vírus há uns 12 anos, vive um relacionamento estável com um hiv- e resolveu investigar o fenômeno das pessoas que desejam se infectar com o hiv. O principal meio que ele encontrou foi através de um site de encontros por onde foi contactado por diversos ditos bugchasers.
Por ter um caráter educativo, este documentário acaba pegando pesado na situação das pessoas que vivem com o vírus: sintomas, efeitos colaterais dos arv's etc. Por isso apenas o documentário é uma porrada. Mas ele vai mais longe, chega a conversar com pessoas que procuram se infectar e até mesmo com um cara que se correu todos os riscos até contrair o hiv.
O bottom line desse documentário não permite chegar a uma conclusão clara sobre esse fenômeno, se essas pessoas levam esse propósito a sério ou se serve apenas de inspiração para fantasias sexuais extremas que não são colocadas em prática. Uma das pessoas com quem ele conversou, Brian, contou uma história muito inconsistente e chegou a dizer que acabara de receber um exame hiv+, mas nada parecia ser verdade. Em todo caso, suas justificativas para querer se infectar eram muito furadas -- ou o cara é um mentiroso de marca maior ou é mesmo um doido que não tem noção do que está fazendo.
Outro entrevistado havia sido criado numa comunidade religiosa na Austrália que pregava o fim do mundo. Ele resolveu sair da comunidade e assumir sua homossexualidade, praticando sexo inseguro e tem um discurso muito conformista em relação à morte, como se ele tivesse saído da comunidade mas esta não parece ter saído de dentro dele... ele chega a arregalar os olhos e alterar o tom de voz quando fala da morte e da doença, revelando um fanatismo inconsequente.
Numa conversa com um psicoterapeuta que passou a pesquisar esse fenômeno depois de ter tido um namorado que era um bugchaser, alguns pontos foram levantados que merecem um pouco de reflexão: toda relação sexual é de certo modo uma experiência de morte (o blackout depois do orgasmo é chamado "la petite morte"); situações de risco podem funcionar como afrodisíaco para certas pessoas, lidar com as possibilidades diversas de cada experiência, mesmo as mais trágicas; vários são os elementos que podem compor uma fantasia sexual, a morte pode ser uma delas.
Apesar de ficar meio nebulosa a realidade desses indivíduos, aparecem umas coisas que eu realmente quase passei mal só de ver: um camarada escreveu para ele num chat ou num email que queria ser reinfectado por outras cepas do hiv para ter mais chance de desenvolver a doença em sua plenitude, outro dizia estar há 5 anos tentando se infectar sem sucesso e que pensava até em injetar sangue contaminado e outras pérolas do gênero.
Ricky contesta as atuais campanhas de prevenção veiculadas no Reino Unido, como uma em que um barebacker pede para o cara ejacular fora, como se isso reduzisse o risco de contaminação. E questiona qual o melhor meio para tentar conscientizar as pessoas que aparentemente decidiram se infectar com o hiv.
Posso dizer por experiência própria que não é preciso nem mesmo uma relação sexual levada a cabo para ocorrer a infecção: eu mesmo me infectei numa relação que não aconteceu, ou seja, eu nem cheguei a penetrar o cara totalmente, apenas brincamos e eu apareci com sintomas de gonorréia ou micoplasma dois dias depois. Foi falta de cuidado da minha parte, não nego, mas também foi uma puta de uma fatalidade, porque com certeza já havia feito coisas piores sem consequências tão graves e conheço pessoas que se expõem muito mais do que eu jamais me expus e nunca pegaram nada. Apesar de ainda não ter desenvolvido nenhum sintoma e ter meus exames todos normais, não me animo nada com as perspectivas de evolução da doença nem com os efeitos dos arv's que possivelmente tomarei algum dia. Mas tão ruim quanto a própria doença e seu tratamento é o medo do preconceito e da rejeição -- isso sim é um pesadelo constante.
Recomendo este documentário a todos que queiram conhecer mais sobre o assunto, mas aviso logo que não é um docuimentário fácil de se ver.
Enquanto assistia ao doc, me lembrei de um vídeo clip que passava na MTV há uns bons anos, "People are still having sex" do La Tour:
Have you noticed
That people are still having sex?
All the denouncement
Had absolutely no effect.
Parents and counselors
Constantly scorn
them,
But people are still having sex
And nothing seems to stop
them.
Do you realize
That people are still having sex?
They've
been
told no to,
Perhaps they are perplexed.
When you see them
holding hands
They are making future plans
To engage in the activity;
Do you
understand me?
People are still having sex.
Lust
keeps on lurking.
Nothing makes them stop;
This AIDS thing's not
working.
People
are still having sex;
It's been going on for
quite a while.
Perhaps it
is quite fashionable.
It hasn't gone out
of style.
It's a fact that
people are still having sex;
It's
rather obvious--
It's just what one
expects.
The evidence is all
around
That everyone in everytown
Has
had it at one time or another
in their life.
At this very moment,
People are still having sex.
In a downtown condo
Or a street in the
projects.
Even though you
can't see them
Or hear their breathing sounds,
Someone in this world
Is having sex right now.
People are still
having sex.
People
are still having sex.
People are still having sex.
People are still
having sex.