segunda-feira, 31 de março de 2008

A Gente Não é Sério aos 17 Anos


Barbara Samson é uma escritora francesa cuja carreira teve como ponto de partida sua soroconversão. Sua autobiografia conta a história da jovem de 17 anos que, internada para se tratar de uma desordem alimentar, é seduzida por um paciente que escrevia poemas para ela. Barbara descobriu que seu amado Anthony, além de problemas com drogas, levava consigo um outro segredo: era soropositivo. E mais: os poemas enviados por ele eram letras de música do The Doors!

É de um verso de uma poesia de Rimbaud, "Romance", que Barbara batizou seu livro: On N'est Pas Serieux Quand On A Dix-sept Ans.

Rimbaud fala dos amores de verão, dos jogos de sedução que levam a relacionamentos fugazes e que não oferecem perspectivas futuras. No caso de Barbara, seu amor de verão foi inesquecível e o livro foi o meio pelo qual ela expressou sua revolta e incertezas com relação ao futuro. Sua história se tornou pública na abertura da Sidaction* 1994, quando Barbara chocou a França contando tudo em cadeia nacional.

Ouça Barbara falando de sua história e declamando um excerto do poema de Rimbaud clicando aqui.

* Sidaction é uma associação francesa que apóia pesquisas, campanhas de prevenção, ações em países em desenvolvimento e assiste soropositivos de baixa renda (com albergues, assistência social, apoio piscológico e acompanhamento médico). Suas campanhas são de grande impacto, como pode-se ver no vídeo abaixo:

terça-feira, 25 de março de 2008

South Park Positivo


É difícil imaginar uma possibilidade de fazer graça com o hiv e aids sem pesar demais pro lado do humor negro. Mas os geniais criadores do South Park conseguiram me fazer rir do assunto de forma leve. Ainda não vi o episódio, mas li sobre ele aqui.
Cartman é infectado pelo hiv numa transfusão de sangue. Tem até um diálogo em que uma garçonete fala para Cartman que a "aids é uma doença tão anos 80 e 90, agora o negócio é câncer" ao que ele responde "legal, com tanto tempo para pegar aids eu fui pegar justamente quando ninguém mais dá a mínima para isso". Mas o episódio consegue ainda chamar atenção para a questão de financiamento de pesquisas, campanhas de prevenção e ainda conta com a participação do Elton John (que deixa de ir ao evento promovido por Cartman para levantar fundos para pesquisas da aids para ir a um evento beneficente para o câncer!).

segunda-feira, 24 de março de 2008

A Cura

Desde que o hiv começou a fazer parte da minha vida, comecei a pesquisar várias possibilidades de cura. A esperança é a última que morre, não é verdade? E como adepto de terapias alternativas, homeopatia etc., investiguei alternativas às terapias anti-retrovirais usadas hoje.

Nos sites mais negacionistas, há todo tipo de propaganda contra as terapias desenvolvidas nos últimos anos, os chamados coquetéis. Mas há muitos sites que não necessariamente negam a existência do hiv e oferecem tratamentos à base de ervas, aparelhos de microcorrente, ozônio etc.

O Tian Immune Booster foi um que muito me impressionou. O Dr. Tian vive na África e desenvolveu uma fórmula fitoterápica que controla o hiv e reforça o sistema imunológico, prevenindo o surgimento da aids ou até mesmo fazendo com que os sintomas regridam. Não é tão caro, a OMS está observando de perto os resultados do Dr. Tian, mas o problema maior é trazer da África esse tipo de medicamento.

Dra. Hulda Clark propõe um tratamento com base na sua pesquisa com aparelhos de microcorrente que eliminariam o hiv do corpo do paciente, juntamente com dieta e outras medidas um tanto difíceis de incorporar à rotina de uma pessoa. Eu já usei um aparelho dela uma vez para tratar vermes. Nem posso afirmar que funcione, mas que o organismo responde de alguma forma, isso eu não tenho dúvida.

Há um site que fala de uma patente registrada nos EUA no início dos anos 90 de um aparelho de microcorrente que eliminaria o hiv do corpo da pessoa. O princípio é semelhante ao da Dra. Hulda Clark, mas essa história parece muito estranha. Se a patente foi aprovada em poucos meses, é porque o aparelho foi tido como algo promissor. Mas nunca mais se falou no assunto. Não se sabe se a patente foi feita e o desenvolvimento foi interrompido por alguma razão.

Outra abordagem é a prata coloidal. A prata é um antibiótico potente e teria a capacidade de controlar o aumento da carga viral, além de prevenir infecções oportunistas. No Brasil, esse aparelho custa em torno de 400 reais, se não me engano. Há um camarada em Minas Gerais que faz esse aparelho e também faz um aparelho semelhante ao da Dra. Hulda Clark.

Na Austrália, há um médico que alega conseguir reduzir carga viral e controlar o a doença com os mesmos efeitos das terapias anti-retrovirais somente com doses altíssimas de vitamina C aplicadas diariamente por via intravenosa. É um método polêmico e que envolve muitos riscos e requer supervisão médica em tempo integral por causa dos efeitos colaterais.

Em São Paulo há um médico que aplica a terapia de ozônio. Se não me engano, retira-se uma pequena quantidade de sangue do próprio paciente, à qual é acrescentado um composto à base de ozônio. O sangue ozonizado é reinjetado. É usado contra herpes, hpv, hiv e câncer. Dizem que os resultados são incríveis. Na França é muito usado, assim como há clínicas nos EUA e em outros países da Europa.

Um camarada na Inglaterra tem um método que ele alega ser eficaz. Somente é aplicado a soropositivos com menos de 2 anos e que sejam assintomáticos. Este, particularmente, foi um contato que eu quase arrisquei, mas vi que a logística de trazer da Inglaterra o remédio seria arriscado demais.

Há um site falando de um tratamento de hipertermia no leste europeu. Com o aumento controlado da temperatura corporal, eles alegam que o sistema imunológico se refaz completamente e consegue controlar o aumento da carga viral. Serve também para câncer, segundo eles. O valor fica em algumas dezenas de milhares de euros.

Há vários casos de pessoas que respondem muito bem à homeopatia e acupuntura. No Rio de Janeiro há uma acupunturista que chegou a ter um ambulatório num hospital universitário de referência em hiv. Sei de pelo menos 2 médicos homeopatas (RJ e PR) que têm resultados impressionantes no tratamento do hiv.

Acredito que tudo pode ser positivo se não for usado de maneira irresponsável. Bons hábitos alimentares e atividades físicas ajudam sempre. Qualidade de vida, relacionamentos estáveis e postura positiva diante do "problema" também ajudam. Mas o controle tradicional deve ser feito sempre.

Nunca tentei nada do que expus acima desde o hiv. Fiquei com medo de pirar na neura de uma cura e acabei deixando a coisa rolar, fazendo o controle periódico. Mas não excluo a possibilidade de usar um ou outro método caso ache necessário.

Não cito nomes, urls de sites nem dou referência de nada porque não estaria prestando um serviço. Não existe nada de comprovado em nenhuma das abordagens que possa garantir a eficácia e segurança de qualquer desses métodos. E há muita gente inidônea que se aproveita do desespero e da ingenuidade alheia para ganhar dinheiro fácil. Da mesma forma, há igrejas evangélicas que têm "exemplos" de ex-homossexuais e viciados em drogas que eram soropositivos e se curaram pela fé. Por que não?

Hoje tento organizar minha vida para manter uma rotina saudável de exercícios, alimentação equilibrada, relacionamentos saudáveis, muito foco no trabalho e na carreira profissional, meditações para o autoconhecimento, leituras edificantes (nada de auto-ajuda com segredos mirabolantes para o sucesso, ok?) e alguma esperança de que minha saúde não sofrerá maiores danos por causa do hiv. Tomo vitamina C todos os dias e tento compensar as guloseimas, o álcool e o cigarro com alimentação vegetariana e muita água.

Se o hiv faz parte da minha vida, posso escolher o quanto viverei em função dele. Faço o que posso por mim, pelo meu bem estar e pela minha saúde. Mas não acredito que deva me render ao desespero e à busca neurótica por tudo que há por aí que promete a cura.

Se algum dia surgirá uma cura definitiva para o hiv, eu não sei. Espero que sim. Tento me manter informado sobre os avanços e as novidades que surgem. Mas tento não condicionar minha vida em função disso. Até porque todos devem fazer planos e viver todos os dias com o máximo de qualidade e proveito. Uma vida não se deve medir pelo número de anos vividos, mas sim pela qualidade com que foram vividos.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Sei que não é exclusividade de tribo alguma, mas que esse povo carente viaja na batatinha, isso viaja!

Depois de conhecer um carinha pelo site, conversamos um par de vezes pelo msn. Até aí tudo normal. Falamo-nos uma ou duas vezes pelo celular, coisa de 40 segundos cada chamada. Até aí, ok. Trocamos uma penca de sms, o que também está de acordo com o contexto. Mas receber uma mensagem dizendo "saudades de vc" é too much.

Saudades de quem e de quê? Realmente, nada contra os carentes (nem me excluo dessa turma). Mas sentir saudades de dois papinhos no msn ou de dois ois pelo celular é demais. Tipos, nem nos conhecemos mas já tou com saudades de você... Sei não... Food for thought.

O que eu realmente sinto muito claramente nesses contatos que fiz através do site é que a disposição de engatar um relacionamento sério pra valer é realmente grande. Ok, todo mundo tem medo de ficar sozinho. Ninguém (ou quase ninguém) quer chegar aos 45 anos sem um relacionamento fixo, um parceiro, uma pessoa para dividir os ônus e bônus desta vida. No caso da tribo poz o medo de ser rejeitado e não conseguir ter um parceiro (ou pelo menos não poder escolhê-lo) é quase que uma norma.

Um ano e meio atrás, antes do meu diagnóstico, eu era de uma autoconfiança (para não dizer arrogância) invejável. Depois do diagnóstico, tive um namorado neg que topou na boa (ok, ele já me conhecia e me amava antes, mas topou a parada, né?). Depois que ele me mandou ir me fuder e bateu o telefone na minha cara (uma looonga história, mas juro que não fiz nada demais que não pudesse ser esclarecido com uma conversa civilizada), me bateu uma paranóia de ficar sozinho para sempre que quase me enlouqueceu. A idéia de não mais poder escolher, ou melhor, saber que um relacionamento não dependeria tão-somente do jogo de sedução, das afinidades e tudo mais, foi um choque. Agora, o relacionamento dependeria de o outro aceitar meu status sorológico. E não é qualquer um que topa essa parada. Eu não sei se outrora toparia... Comecei a ter paúra de contato com potenciais parceiros.

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Eu não disse outro dia que não estava muito no clima de sexo pelo sexo? Também disse que poderia ser apenas uma fase. Na verdade, não sei, mas estou doido para "sair" (agora sim no sentido bíblico) com o carinha de domingo. Ando com dor na virilha (ok, um pouco mais ao lado) de tanto tesão... E acho que vai ser hoje... :-)

UPDATE: Foi hoje... e foi ó-ti-mo! Não tive nenhum sentimento de estranheza. Foi natural e muito "quente". Foi diferente transar com um poz que não tem tanta neura de tocar e colocar a boca onde um neg não ousa colocar... hehehe...
Lembro como foi doloroso lidar com isso com meu ex. Um dia ele me disse que tinha saudade de fazer sexo oral em mim (chupar meu pau). Foi doloroso. Como já tínhamos um história pré-hiv com um sexo muito intenso, a mudança em nossa relação sexual foi drástica. As restrições que o hiv impõe são realmente frustrantes, mas no fundo todos sabemos que o certo seria fazer sempre desse jeito: nada de contato direto com os fluidos alheios, seja pela boca ou onde for.

Enfim, transar com um poz foi novidade para mim. Aí você pensa "pô, o cara ainda pára pra pensar nisso, estando ele na mesma situação que o outro..." e é isso mesmo. Eu paro para pensar nisso porque nunca tive essa experiência antes. E eu sempre pensei que seria algo mais... tenso. E não foi. Não porque estou na mesma situação que o outro, mas porque o outro não me causou qualquer sensação de estranheza. E não pensei nisso durante a transa. Foi natural, normal, como qualquer outra em muitos aspectos.

Há uns 4 anos eu conheci pela internet um carinha lindo do Rio que era poz. Bom, pelo menos a descrição e as fotos eram interessantes e ele se dizia hiv+. E eu quis ir transar com ele porque pensei que seria um exercício de romper limites fazendo o que todo mundo deve fazer sempre: se proteger do início ao fim da relação. Mas acabou não rolando...

Dessa vez, foi diferente, claro, mas valeu. Me ajudou a quebrar barreiras que eu acreditava me separar dos demais, principalmente dos negs.

Ah, sim! Usamos camisinha. Tem que usar. Apesar de sentir que muitos pozes se sentem liberados desse fardo (não que sejam todos bug-chasers), há muitos riscos numa relação sem proteção que ainda precisam ser evitados, dentre eles HCV e reinfecção -- infecção por outro tipo de hiv.

ps: a dor passou...

terça-feira, 18 de março de 2008

Primeiro encontro

Tive meu primeiro encontro com um cara hiv+ do site.

Foi muito bom. Olhar para um cara bonito, bem sucedido, viajado, inteligente e ver que ele é tão normal quanto eu gostaria de ser, apesar de ser soropositivo. Vi o quanto de preconceito (medo!) que tenho com os estigmas da doença...

Fomos tomar um café da manhã num lugar fofo. Sentamos e conversamos loooongamente. Senti desejo por ele. Consegui me ver indo pra cama com ele. Consegui me imaginar tendo contato íntimo com ele. Isso foi uma vitória. Não, duas. A primeira, por superar aquele medo todo de entrar em contato com um (outro) hiv+. A segunda, porque desde o fim do meu namoro, que era um namoro de muita ligação sexual, de pele mesmo, e ainda é difícil me imaginar com outra pessoa. Um tesão louco. Sabe quando a pele da pessoa fica gravada na sua, você não consegue imaginar o seu corpo fazendo sentido se não for no contato com o dela? Então, algo assim. Meu corpo só faz(ia) sentido no contato com o dele.
Na hora da despedida, aquele clima "e então?", mas eu estava quebrado de uma noite de trabalho. E teria mais coisas para fazer naquele domingo. E não queria repetir o padrão de começar (ou nem dar continuidade a) um relacionamento pela cama. Então, ficou aquela despedida de sorrisos amarelos e um sms 10 minutos depois "acho que vou querer repetir...".
Foi muito bom quebrar uma série de barreiras. Foi bom me sentir atraído por outro, com a liberdade de ser declaradamente hiv+. Foi bom sentir que há possibilidade de relacionamento após o hiv.
Não, não me apaixonei nem rolou aquela cooooisa. Mas nem eu espero viver isso de novo, já vivi tantas vezes... E não tenho esse sinal como termômetro. Acho que pode acontecer ou não, mas não é o que define o caminho que tomará um primeiro encontro.

Algo despertou dentro de mim. Não um algo pronto, mas um potencial. E não um potencial totalmente conhecido. Sinto que minha postura frente aos potenciais parceiros mudou. Antes era tudo muito fácil: encontro-cama-outro encontro-cama de novo-e mais cama-namoro...

Não que eu tenha virado Kaká santo e sexo só depois do casamento. Mas espero que um encontro renda mais do que isso. Talvez por não ter mais tanta escolha. Talvez por algum amadurecimento. Talvez seja somente uma fase...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Momentos iniciais

É curioso fazer uma retrospectiva daqueles primeiros minutos, horas, dias e semanas do meu diagnóstico.

Primeiro vem aquela sensação de que puxaram o tapete, saca? O chão falta e bate aquela sensação entre "é tudo um pesadelo" e o desespero do abismo. Pensei em me matar. Pensei em fazer tanta coisa para não sofrer as consequências da infecção. Em não desapontar as pessoas próximas... foi uma loucura. Neguei até o fim. Refiz o exame (de praxe) e confirmou. Pesquisei e vi que poderia ter sido um falso negativo causado por outras infecções que havia tido um mês antes.

Pesquisei em todos os sites que encontrei perspectivas de cura, curas alternativas, pesquisas etc. Encontrei aqueles sites de negacionistas dizendo que o vírus não existe, que nunca foi isolado, que não existe um padrão de referência para os exames anti-hiv, que inúmeras pessoas são diagnosticadas como positivas, começam tratamento e depois são tidas como falsos negativos e coisas do gênero.

Um mês depois dos primeiros exames, fiz uma carga viral e deu indetectável. Bom, neste ponto até minha irmão, que é médica, ficou surpresa... Na semana seguinte repeti o exame anti-hiv num laboratório e carga viral em outro. O anti-hiv deu negativo. Aí eu pirei de vez, chorei como doido querendo saber a verdade. Cheguei no escritório e abri um email com o resultado da carga viral: não sei quantas mil cópias. Fudeu! Nem deu tempo de comemorar ou pirar mais na esperança de ser tudo um engano.

Deixei o assunto em banho maria. Veio Natal, Ano Novo, meu irmão morreu num acidente... enfim, esperei mais um pouco e procurei um excelente laboratório para confirmar o anti-hiv. Conversei com o médico, fiz o exame. Telefonaram pedindo outra amostra. Pronto, a resposta estava ali, naquele telefonema. No meio de tantos traumas e perdas, esse assunto começou a adquirir outro peso. Quando se perde um irmão, aquele que já estava aqui quando eu cheguei e que eu sempre acreditei que estaria comigo até o fim, a escala de valores muda para muitas coisas. Depois de dar a notícia da morte do meu irmão à minha própria mãe, tudo mudou. Nem a morte é a pior perspectiva. Mas sofrer e ver o sofrimento da sua própria família pela perda de alguém tão próximo é foda. E, nesse contexto, não comentei mais o assunto com ninguém, nem com minha irmã. Só fui começar os exames de rotina para soropositivos alguns meses depois. Tudo sob controle.

Confesso que de tempos em tempos dou uma googlada nos termos HIV AIDS CURE... nada de novo!

"enquanto todo mundo espera a cura do mal, e a loucura finge que isso tudo é normal, eu finjo ter paciência..."
Um bate-papo. Um encontro. Um sexo inacabado. Uma grande mudança no rumo da minha vida.

Quando vi aquele lourinho sentado atrás do balcão de uma loja de celular, pensei que parecia um diabo louro -- sem nenhum ranço religioso por trás desse pensamento. Uma hora antes, conversávamos numa sala de bate-papo. Ali, trocamos meia dúzia de palavras. Horas mais tarde, estávamos na cama dele.

Com camisinha, claro. Mas não tava rolando. Ele não relaxava. Tirei a camisinha. Brincamos. Nessa brincadeira, que não chegou a ser uma penetração total nem se transformou num coito propriamente dito, o pior aconteceu.

Obviamente, só fui saber meses depois. Por um acaso. Um exame de rotina trouxe a bomba. E o pior: eu estava namorando. E transava sem camisinha. Foi um golpe e tanto.
Ele não pegou. E continuou comigo por mais de 1 ano. Terminamos por outras razões.

Solteiro, soropositivo, carente... o que o mundo lá fora me guarda? Rejeição, preconceito...
Comecei a entrar em salas de bate-papo declarando meu status. Somente uma vez alguém falou comigo, mesmo assim deixou de falar logo depois. Deve ter caído a ficha.
Eu estava saindo com um caso de outra época. Mas não queria me aproximar rápido demais. Precisaria saber se valeria a pena me expor para ele antes de dar um passo maior. Ele não deve ter entendido meu "ritmo" e se afastou, pensando ser desinteresse meu.

Pensei que nunca poderia ter um relacionamento normal, de entrega e cumplicidade. Pensei que estaria sozinho numa multidão de soronegativos, impossibilitado de ter intimidade com qualquer um de quem eu gostasse. Imaginava que soropositivos como eu estariam escondidos em lugares isolados, fechados para o mundo. E pensei que teria o mesmo fim.

Um dia resolvi entrar em sites de relacionamentos especializados para a "tribo hiv+". Todos no exterior. Tudo muito distante. Muito medo de ficar sozinho. Muito medo da rejeição... Estava conformado a sexo anônimo e sem maior exposição para satisfazer os instintos e alguma válvula de escape para a carência afetiva: um animal de estimação, um hobby, um trabalho voluntário...

Um dia entrei num site de relacionamentos gays. Anúncios em busca de sexo "ou algo mais" -- um eufemismo para disfarçar a carência e o desejo de um relacionamento estável. Encontrei muitos na minha situação. Perfis interessantes. Homens de 23 a 58 anos, todos soropositivos, buscando alguém.

Mandei mensagens para vários e fui tendo respostas. Algumas mais reservadas, outras empolgadíssimas, mas sempre a sensação de que havia encontrado uma luz no fim do túnel. Mas, peraí! Relacionamento é sempre tão difícil: nem sempre rola aquela química, aquela sintonia inexplicável que aproxima duas pessoas num propósito maior que a intimidade sexual. Será que neste contexto, neste mundo paralelo dos soropositivos, seria diferente?

Conversei com vários caras. O que mais me surpreendeu foi: muitos são homens bem sucedidos, bem de vida, com carreira consolidada e tudo mais. Só que em algum momento contraíram o vírus e foram jogados para um outro campo de experiência, onde o poder de escolha não é mais o mesmo e as expectativas parecem crescer proporcionalmente ao medo de não ser aceito pelo outro que se deseja. Qualquer um tem que bastar.

Neste diário, pretendo relatar minha experiência com essa busca. Sou como todos os outros, negs ou pozzes: quero alguém desejável sexual, intelectual e culturalmente. Alguém para ter prazer na cama e fora dela. Alguém que me amplie o campo de experiências e que se interesse pela minha subjetividade, minha bagagem e minha visão de mundo. Alguém para construir algo -- um relacionamento, uma vida a dois, um patrimônio, um futuro. É muito triste a perspectiva de não ter ninguém para compartilhar o passar dos anos. Só que quem traz consigo o estigma de uma doença incurável e contagiosa pelo contato íntimo está fadado a ter seu leque de escolhas limitado -- ou anulado.